Enquanto o mundo debate soluções ambientais, o Amazonas ainda não tem um único aterro sanitário em funcionamento
Desafio global em debate
Manaus (AM) – O destino correto do lixo e a gestão ambiental dos resíduos estão no centro das discussões da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que acontece esta semana em Belém (PA).
Especialistas de vários países discutem soluções para reduzir o impacto dos resíduos sólidos no clima e defendem o fim definitivo dos lixões, como medida essencial para proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida das populações.
Durante o encontro “Encerramento de lixões, energia renovável e cooperação internacional”, o conselheiro da organização Water For All, José Gestl, ressaltou que governos e sociedade precisam agir com mais rapidez.
“A questão do lixo é um problema mundial que ainda não foi resolvido na maioria dos países. É urgente adaptar e institucionalizar ações para diferentes contextos — urbanos, rurais e florestais”, alertou Gestl.
O secretário de Meio Ambiente de Portugal, João Manuel Esteves, foi direto: saneamento e tratamento adequado dos resíduos são direitos humanos básicos.
“Se queremos qualidade de vida e desenvolvimento, é indispensável resolver a questão do lixo”, afirmou.
Crise amazônica
Enquanto o tema é amplamente debatido na COP30, a situação no Amazonas é crítica
Com 4,3 milhões de habitantes distribuídos em 62 municípios, o estado não possui sequer um aterro sanitário licenciado, e as 864 mil toneladas de resíduos
expansão, devem sentir primeiro os efeitos da crise.
“É uma bomba-relógio, com tempos diferentes para cada cidade, mas que uma hora vai explodir se nada for feito”, adverte.
Planos que ficaram no papel
Em 2012, a Associação Amazonense de Municípios (AAM) criou o Programa Plamsan, que elaborou os planos de saneamento básico e gestão de resíduos para 58 municípios do interior, com previsão de eliminar os lixões até 2024, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010).
Nenhum dos projetos acabou executado. Em 2022, o programa foi revisado, mas continua sem sair do papel.
“Os entraves principais são o desconhecimento da população, a falta de vontade política e o financiamento insuficiente”, aponta Freitas, que defende parcerias público-privadas (PPPs) como alternativa viável para o setor.
Primeiros sinais de mudança
A Prefeitura de Manaus anunciou a construção do primeiro aterro sanitário do estado, no km 19 da rodovia AM-010, ao lado do atual lixão da capital. O investimento, estimado entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões, é das empresas que já atuam na limpeza urbana e deve ser concluído até fevereiro de 2026.
Com área de 67 hectares, o aterro terá vida útil de 20 anos e seguirá padrões técnicos de impermeabilização, coleta de chorume e tratamento de gases.
Em Iranduba, outro projeto traz esperança: o Serviço de Tratamento e Destinação de Resíduos (STDR), da empresa Norte Ambiental, está sendo construído na rodovia AM-070. A estrutura, 100% privada, promete transformar o município em referência internacional em gestão de resíduos.
“O STDR Iranduba é um divisor de águas. Mostra que o resíduo pode deixar de ser um problema e virar parte da solução, inclusive como fonte de energia”, destacou o diretor da empresa, Winsber Wasques.
O desafio amazônico
Os debates da COP30 apontam para uma verdade incontornável: sem resolver o problema do lixo, não há sustentabilidade possível. Enquanto o mundo discute o futuro verde, o Amazonas precisa correr contra o tempo para transformar planos em ações e livrar de vez suas cidades dos lixões — antes que o descaso se transforme em tragédia ambiental e social.


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