Uma pata estendida pode ser mais forte que mil palavras
Manaus (AM) – Era só mais uma sexta-feira no hospital. Até que entraram eles: Bono, Bela e Kira. Três Golden Retrievers, cães terapeutas devidamente treinados, que quebraram o silêncio pesado dos corredores do Complexo Hospitalar Sul, em Manaus, com rabo abanando, olhar doce e uma missão nobre: curar com presença.
A visita dos cães faz parte da Terapia Assistida por Animais (TAA), um projeto que parece coisa de país evoluído, mas está acontecendo aqui mesmo, no Amazonas. A ação, realizada pela Agir Saúde, trouxe vida ao ambiente hospitalar — onde o tempo costuma doer mais do que os próprios diagnósticos.
Cães que sabem ouvir
Os cães terapeutas fazem parte do projeto AnimaPet e são acompanhados pela neuropsicopedagoga Samanta Jaime. Não são cães comuns. São terapeutas com quatro patas e coração disponível.
“Eles passam por um rigoroso treinamento e têm acompanhamento veterinário constante. Mas o mais importante é o que eles provocam: sorrisos, lágrimas boas, alívio”, diz Samanta.
Foi o que sentiu Salma Paiva, internada havia dois dias.
“Meu semblante estava triste. Quando eles entraram, tudo clareou”, disse, com os olhos úmidos. Rosiene de Góes também não segurou a emoção: “Foi como lembrar de casa. É muito mais do que uma visita, é um reencontro com a vida.”
Terapia que não sai na receita, mas funciona
A TAA é uma intervenção que une ciência e afeto. Estudos mostram que o contato com animais ajuda a reduzir ansiedade, estresse e até a pressão arterial. Em tempos de superlotação hospitalar e cansaço emocional, esses cães não são apenas fofos — são estratégicos.
A equipe multiprofissional do hospital avalia cada setor para garantir que os cães estejam onde fazem mais bem.
“Escolhemos áreas com menos restrições, como unidades de internação, onde o contato com o animal é seguro para todos”, explica Marcos Paulo Ribeiro, gerente do CHS.
Quando a cura vem com lambida e olhar
A terapia com cães não substitui medicamentos, mas ajuda o remédio a fazer mais efeito. Reforça a humanidade do cuidado, especialmente num sistema de saúde que muitas vezes trata o paciente como número.
O projeto dos cães terapeutas deve continuar — com critério, avaliação constante e muito afeto envolvido. E se depender dos aplausos dos pacientes e da resposta dos corpos tocados por um focinho quente e um rabo feliz, ele já é um sucesso.
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