Novo Aripuanã (AM) – Em um momento de reconexão com a natureza, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Juma, gerida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), realizou sua primeira soltura de quelônios, na sexta-feira (23/01).
A ação teve lugar na comunidade Santana do Arauazinho, em Novo Aripuanã, a 227 quilômetros de Manaus.
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Capacitação de famílias
O projeto na RDS iniciou em 2023, com a capacitação de duas famílias, além do mapeamento das praias que são tabuleiros onde ocorrem as desovas.
A qualificação foi realizada em conjunto com monitores de quelônios da RDS Rio Madeira, que acompanharam a coleta e transferência para a chocadeira durante dois meses.
“Foi um trabalho no dia a dia, quando começou o processo da desova. A gente tem a nossa participação como técnicos e gestores da Unidade de Conservação, mas eu digo que é mérito total das famílias que participaram. Eles realmente abraçaram a causa e o projeto”, conta a gestora da RDS Juma, Khimberlly Sena.
Em parceria com monitores de quelônios da RDS Rio Madeira, as famílias acompanharam de perto o ciclo de vida dessas incríveis criaturas, desde a coleta dos ovos até o momento da soltura.
Metodologia
A metodologia adotada, desenvolvida pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) por meio do Projeto Pé-de-Pincha, garantiu o máximo de cuidado e segurança aos filhotes durante todo o processo.
Segundo a técnica de capacitação e representante do Projeto, Midian Salgado, existe um método bem delimitado para evitar o máximo de perdas durante o processo de coleta e eclosão.
“Os ovos são colocados dentro de caixas de isopor com substrato, como areia e capim, para evitar choque térmico e rolamentos, e de lá são transferidos para uma chocadeira, um local cercado e que tenha segurança. Os ninhos são reproduzidos como se fosse na natureza”, relatou.
Com técnicas específicas de coleta, transferência para chocadeiras e posterior soltura, a taxa de sobrevivência dos quelônios aumentou significativamente.
Para Ademar Serrão, líder comunitário e morador da região há quase três décadas, o projeto representa uma oportunidade de redescobrir e proteger a riqueza natural do local.
“Tinha bastante quelônio aqui, muito mais do que tem hoje. Aqui na comunidade morava bastante gente, eles desciam para os tabuleiros de desova, e passavam semanas lá coletando ovos só para comerem. Com o passar do tempo, a sede do município foi evoluindo, e o comércio se expandiu. Começaram a pegar os quelônios e os ovos e comercializar na cidade, assim foi reduzindo e reduzindo”, contou Ademar.
Esforço
Em um esforço conjunto entre a comunidade e os órgãos ambientais, cerca de 1.119 ovos foram coletados, resultando em uma taxa de eclosão de 54%.
Para a gestora da RDS, a soltura de quelônios realizada pela própria comunidade é um marco para a preservação ambiental na reserva, pois contribui para o sentimento de pertencimento e cuidado com a floresta entre os moradores da região.
“Nada se faz sozinho, é uma via de mão dupla. Se o senhor Ademar não quisesse fazer esse trabalho, não ia funcionar. E se fosse só ele, sem o apoio da Sema, talvez também não desse certo, não com todo o êxito que foi essa primeira soltura e o primeiro ano de monitoramento. O sentimento que eu tenho hoje é de alívio, por encerrar essa etapa, mas também é um sentimento de gratidão, por eles terem acreditado que poderia dar certo, por terem aceitado o desafio”, completou Khimberlly.
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