Manaus (AM) – As recentes declarações do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, têm gerado discussão no cenário político, trazendo à tona debate acalorado sobre a divisão regional e a unidade nacional. As maiores reações partiram das lideranças das regiões Norte e Nordeste.
O que o governador de Minas disse?
O governador mineiro fez declarações polêmicas em entrevista ao jornal Estadão, onde expressou a intenção das regiões Sul e Sudeste de conquistar maior protagonismo na política e economia e destacou a importância de agir em bloco para evitar prejuízos para outras regiões.
“Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e o Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não”, argumentou Zema.
O governador também criticou a criação de um fundo de combate à pobreza exclusivo para as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, afirmando que as regiões Sul e Sudeste também enfrentam desemprego, comunidades carentes e necessitam de “ações sociais”.
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Romeu Zema ressaltou que, historicamente, as regiões Sul e Sudeste nunca tiveram um protagonismo político significativo, apesar de estados como São Paulo e Minas Gerais terem eleito presidentes durante o início do período republicano.
Essa prática, conhecida como ‘política do café com leite’, faz referência aos produtos manufaturados nesses dois estados à época.
É importante destacar que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), demonstrou apoio à posição de Zema, respaldando sua visão sobre o protagonismo das regiões Sul e Sudeste.
As declarações geraram debates intensos sobre a divisão regional e a busca por equidade no cenário político e econômico do Brasil.
Reações
O governador do Amazonas, Wilson Lima (União) criticou as falas do governador mineiro e afirmou que a declaração é perigosa por estimular ‘um cabo de guerra entre as regiões’ e pontuou que, assim como o mineiro, é um político de direita.
“Uma declaração dessa é muito ruim porque porque a pobreza se concentra no Norte e no Nordeste. Sul e Sudeste não querem abrir mão do que eles têm em termos de competitividade, mas é necessário um equilíbrio. É muito perigoso estabelecer um cabo de guerra entre as regiões e colocar uma população contra a outra”, afirmou Wilson.
O amazonense Saullo Vianna, deputado federal do União Brasil, expressou sua preocupação com as palavras do governador, questionando a possível motivação por trás dessas declarações.
Vianna sugeriu que a abordagem de Zema pode ser mais “oportunista” do que baseada em convicções genuínas, levantando a possibilidade de que o governador esteja mirando um eleitorado em busca de alternativas após a possível inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Eu vejo a fala do governador Romeu Zema muito mais oportunista do que por convicção do que ele estava falando. Por que que eu digo isso? Porque ele se coloca como futuro herdeiro do bolsonarismo, uma vez que o ex-presidente [Jair] Bolsonaro tende a não poder ser candidato em 2026 por conta da inelegibilidade”, afirmou Saullo Vianna.
O debate se estendeu além de fronteiras partidárias, com líderes de diferentes espectros políticos emitindo opiniões sobre o assunto.
O governador João Azevêdo, presidente do Consórcio Nordeste, destacou a importância da coesão nacional em uma nota, advertindo contra qualquer forma de incitar uma “guerra entre regiões”.
“É preocupante o discurso do governador de Minas Gerais de protagonismo dos estados do Sul e Sudeste, por ver estímulo a guerra entre regiões. As regiões Norte e Nordeste são penalizadas há anos por inúmeros projetos nacionais e uma união entre os dois não significa uma guerra entre os demais estados. Não podemos embarcar em uma onda separatista. Devemos buscar contribuir para o desenvolvimento do país como um todo. O Brasil precisa crescer unido”, afirmou o governador João Azevêdo.
As declarações de Zema reacenderam o debate sobre o federalismo no Brasil.
“É preciso entender que precisamos de equilíbrio e que não é colocando regiões em disputa que o problema do país vai se resolver. Precisamos sim de compensação e principalmente de união”, ressaltou o deputado federal Sidney Leite.
Amom Mandel, também deputado federal, destacou a importância das políticas públicas para combater a desigualdade e enfatizou que “as políticas públicas beneficiam mais as regiões mais pobres”. Ele questionou a abordagem de Zema e apontou para a complexidade das disparidades regionais no Brasil.
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