A Glocal Amazônia se transformou, neste fim de semana, em um espaço para analisar soluções para o desenvolvimento do empreendedorismo feminino na região. A história do projeto “Elas Empreendedoras”, que tem o apoio da Eneva, e o debate sobre as barreiras que persistem para as mulheres nos negócios foram abordados tanto em palestras no Palácio da Justiça quanto na feira da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), no Largo de São Sebastião.
O poder transformador do empreendedorismo feminino foi abordado por Fernanda Rodrigues, especialista em ESG da Eneva, durante a palestra “Mulheres empreendedoras”, no Palácio da Justiça, em Manaus. Ao falar do projeto “Elas Empreendedoras”, que conta com o auxílio da companhia por meio da capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, Fernanda contou as mudanças positivas que ela viu na realidade das integrantes do projeto.
“Essas mulheres mostraram que queriam ir além desde que o começo dos trabalhos. Diante dessa força, nós apoiamos o crescimento do grupo com o auxílio para a constituição de uma associação regularizada, com educação financeira e com o mapeamento do potencial de cada grupo. Muitas das mulheres que eu conversei me disseram que foi por meio deste projeto que elas descobriram do que eram capaz e começaram a empreender e a ter sua independência financeira, suas casas e sua liberdade. Ao ouvi-las, eu percebi também a influência da síndrome da impostora nessas mulheres e como o programa mudou o pensamento que elas tinham”, analisou Fernanda Rodrigues.
Das 100 mulheres que fazem parte dos núcleos que compõem o “Elas Empreendedoras”, muitas viviam a cilada da síndrome da impostora. Um problema que, segundo Luciana Nogueira Minev, fundadora e CEO da Singulari Consultoria, deve ser refletido como uma barreira que afeta as mulheres coletivamente, inclusive nos negócios. “Já é um padrão as mulheres se subavaliarem, mesmo quando elas estão em posições de liderança. Elas dizem estar um nível abaixo daquele que os resultados dos testes delas mostram. Com os homens, eles se supervalorizam. A gente identifica que isso vem desde cedo, com a construção cultural e coletiva, por meio da sociedade, onde as meninas são moldadas para serem modestas e em posições rebaixadas. Isso, no futuro, impacta a vida pessoal e profissional”, afirmou Luciana.
Juliana Telles, que é co-fundadora do Impact Hub Manaus, complementou a discussão frisando que negócios empreendidos por mulheres, geralmente, são menores e menos desenvolvidos que aqueles liderados por homens. “Eles já começam com menor acesso a investimentos, a recursos, como se não houvesse empresas de mulheres preparadas para receber esse apoio. Mas, há sim. Precisamos é de ambiente propício para que isso aconteça, sem vieses e preconceitos de gênero”, disse Juliana.
Maria José Normando, diretora da Training Consultoria e Treinamento, disse que debates locais são gestos relevantes para superar os desafios. “Essas reuniões em nosso território ajudam a fazer com que as mulheres acreditem que podem e devem se destacar, que devem acreditar na força que elas têm. E eu vejo que as empresas estão se abrindo, ainda que não seja no ritmo ideal, mas, aos poucos, começam a existir espaços de liderança para as mulheres ocuparem”, afirmou.
Economia criativa e empreendedorismo feminino na feira da FAS
O que se via no Largo de São Sebastião era a extensão da conversa feita no Palácio da Justiça: a feira de artesanato da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) mostrava o trabalho de 30 expositores e seus produtos que movimentam a economia criativa e verde, como biojoias, café, peças de artesanato, roupas, comidas regionais, produtos indígenas e souvenirs.
Na palestra sobre empreendedorismo feminino no palácio, as integrantes vestiam biojoias e/ou roupas produzidas por mulheres que criaram seus negócios localmente, reforçando a necessidade de se consumir a produção, ler as obras e destacar o que é feito ou liderado por mulheres. No Largo de São Sebastião, isso também era visto na prática e comemorado por Marcileny Carvalho dos Santos, líder de um dos núcleos do Elas Empreendedoras.
“Hoje, graças ao que produzimos por meio do Elas Empreendedoras, eu sou independente, não preciso de mais ninguém. Esse projeto mudou não só a minha vida, mas a de todas as mulheres que fazem parte dele. Quem me vê hoje não reconhece aquela Marcileny, que achava que a vida tinha acabado. Tudo mudou com as biojoias, com a produção de alimento que fazemos, com os cursos de costura e tudo mais que é oferecido pelo projeto”, contou a artesã e empreendedora.
A melhora da qualidade de vida também chegou aos produtores rurais de Silves, Itapiranga e região, que expuseram na feira da FAS durante a Glocal. O agricultor Roque Pereira Lins, da Associação Solidariedade Amazonas (ASA), colhe, hoje, os benefícios de fazer parte do projeto Agroflorestais, apoiado pela Eneva. “Esse programa trouxe a capacitação que nós precisávamos para o cultivo do café, com cursos sobre a melhor técnica para ter mais qualidade na produção. Nós queremos fazer cafés especiais e produzir em pequenas áreas, com grande quantidade, sem impactar o meio ambiente, mostrando o nosso diferencial para o consumidor direto na xícara.”
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