Estudo mostra que o crescimento acelerado da capital reduziu a conectividade da floresta e intensificou impactos ambientais
Expansão urbana acelerada e perda de floresta nativa
Manaus (AM) – Em meio ao concreto que se espalhou pelas últimas décadas, Manaus carrega uma marca invisível para quem circula pelas avenidas: a floresta está se desfazendo em pedaços, em visível fragmentação florestal. Um estudo inédito da UFAM e do IFAM revela que a área antropizada da capital — espaços transformados pela ação humana — triplicou entre 1972 e 2018, um salto de 8.805 para 27.249 hectares. Nesse mesmo período, a cobertura florestal caiu de 77,4% para menos da metade do território urbano.
Os cientistas analisaram imagens de satélite e documentos históricos para reconstruir cinco séculos de ocupação, com ênfase no impacto da Zona Franca de Manaus (ZFM), criada em 1967. O resultado é um retrato da Fragmentação Florestal Manaus, que transformou a cidade em um mosaico de bairros, indústrias e estradas cercados por “ilhas” de vegetação.
ZFM acelerou a fragmentação da floresta

A instalação da ZFM foi decisiva para esse quadro. A capital multiplicou sua população por 13 em 50 anos, impulsionada pela atração de migrantes em busca de emprego. No mesmo intervalo, o Estado financiou mais de 66 mil habitações populares, conduzindo a expansão urbana das áreas centrais para as zonas Norte e Leste — justamente onde a floresta ainda resistia.
Esse crescimento irregular gerou fragmentos como o campus da UFAM (600 ha) e o setor florestal do Aeroporto Eduardo Gomes (540 ha). Ambos abrigam biodiversidade relevante, mas estão completamente isolados da Reserva Florestal Adolpho Ducke, um dos últimos grandes remanescentes florestais da cidade.
Ameaça direta ao sauim-de-coleira
A fragmentação não é apenas estatística: ela coloca espécies em risco. O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), primata endêmico de Manaus e criticamente ameaçado, sobrevive em pequenos grupos confinados a pedaços de mata. Para se deslocar, muitas vezes precisa cruzar avenidas, onde sofre atropelamentos frequentes. A perda de conectividade ecológica compromete também o potencial genético da flora e fauna.
Além disso, a expansão imobiliária, especialmente de condomínios de luxo no Tarumã, provocou remoção de solo fértil, assoreamento de igarapés e destruição de habitats.
Ilhas de calor e pressão sobre a cidade
A substituição de floresta por concreto gerou outro efeito: ilhas de calor. O estudo alerta que a ausência de vegetação, somada à posição geográfica de Manaus próxima ao Equador, intensifica o aumento da temperatura urbana, com impacto direto no conforto térmico da população.
Segundo os autores, a trajetória de Manaus expõe a contradição entre progresso econômico e preservação. O avanço da ZFM consolidou a cidade como metrópole industrial, mas às custas de desordenamento territorial e degradação ambiental.
Caminhos para um futuro sustentável
A pesquisa conclui que o desafio agora é integrar os fragmentos florestais ao planejamento urbano. Corredores ecológicos, restauração da vegetação e maior fiscalização ambiental são medidas urgentes. Esses fragmentos oferecem serviços ambientais essenciais, como manutenção de mananciais, regulação climática e qualidade de vida.
O futuro de Manaus depende de reconhecer que o crescimento só será sustentável se a floresta for parte central da cidade — e não apenas o que restou nas borda
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