PARINTINS (AM) – Encerrando a estreia do 58º Festival de Parintins, o Boi Caprichoso levou à arena o tema “Amyipaguana: Retomada pelas Lutas”, com uma apresentação potente, centrada na valorização da resistência indígena, do conhecimento ancestral e das mulheres da floresta. O espetáculo marcou a noite de sexta-feira (27), no Bumbódromo, onde cultura e espiritualidade se entrelaçam sob os olhos atentos da galera azulada.
A apresentação incluiu três grandes eixos temáticos: lenda amazônica, figura típica regional e ritual indígena, todos incorporados em alegorias de impacto visual e simbólico. O evento é promovido pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, e segue até domingo (29/06).
A divindade apagada e a memória restaurada
Entre os pontos altos da noite esteve a obra “Yurupari”, criada pelo artista Roberto Reis, que reviveu a figura mítica da cultura indígena amazônica, frequentemente silenciada ou demonizada ao longo da colonização. Yurupari, um ser sagrado para diversos povos do Alto Rio Negro, teve sua história resgatada com força cênica e narrativa precisa, restaurando seu lugar de respeito como símbolo de força espiritual e liderança comunitária.
Mulheres da cura e da floresta
A Figura Típica Regional do boi azul foi “Majés, as Senhoras da Cura”, assinada pelos artistas Preto e Paulo Pimentel, os Irmãos do Palmares. A homenagem reconheceu a importância das mulheres que, com saberes sobre plantas medicinais e técnicas tradicionais, mantêm vivas práticas de cura em comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia. Um tributo a mulheres anônimas, parteiras, benzedeiras e guardiãs da floresta que resistem com sabedoria diante das adversidades.
Ritual Tupinambá: verdade originária
O encerramento ficou por conta do Ritual Indígena “Tupinambá: A Retomada da Verdade Originária”, assinado pelo artista Jucelino Ribeiro. A alegoria promoveu um reencontro simbólico com o passado indígena do Brasil, num chamado coletivo à retomada das narrativas apagadas pela história oficial. O ritual mobilizou a arena em uma atmosfera de respeito, pertencimento e beleza estética.
A emoção da galera
Do meio da torcida azul, a torcedora Marilene Pimentel, de Boa Vista do Ramos, acompanhava cada detalhe com os olhos marejados. “Desde criança sou Caprichoso. Venho todo ano. Fico desde cedo na fila. Isso aqui é tudo pra mim”, disse, emocionada, enquanto segurava firme a bandeira azul e branca.
O presidente do boi, Rossy Amoedo, destacou o esforço coletivo: “Nos preparamos muito para esse momento. Foi um trabalho de dedicação e respeito à nossa tradição”.
Arte, ancestralidade e resistência
A primeira noite do Caprichoso reforçou o compromisso do boi com a defesa dos povos originários e com a Amazônia viva. Mais que um espetáculo, foi um manifesto em forma de festa: pela floresta, pelas mulheres e pelos conhecimentos que resistem onde o Brasil ainda pulsa em azul profundo.
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