Conheça as lendas do Curupira, Boto, Iara e outros seres encantados que moldam o respeito à floresta e à cultura amazônica
A jornada pelos mistérios da floresta amazônica
A Amazônia não é só verde, nem só água: ela é feita de palavras contadas à boca pequena. Entre galhos, rios e noites longas, sobrevivem histórias passadas de geração em geração. São as lendas amazônicas — criaturas com pés virados, olhos de encantamento e cantos que confundem o coração. Essas figuras vivem na borda entre o real e o sagrado, e carregam o código mais antigo da floresta: respeite para existir.
Curupira: o justiceiro de pés ao contrário

Com cabelos de fogo e passos que confundem, o Curupira não precisa de armas — ele tem a floresta inteira ao seu lado. Protetor incansável, pune quem corta árvores à toa, caça filhotes ou desrespeita a mata. Seu mito é um lembrete direto: quem desmata, desaparece.
A lenda do Curupira é, talvez, a mais poderosa mensagem sobre a necessidade de preservação ambiental. Descrito como um ser de pequena estatura, com cabelos de fogo e, sua marca inconfundível, pés virados para trás, ele pune severamente aqueles que agem com maldade. Assim, sua lenda ensina sobre o cuidado com a natureza, influenciando diretamente o comportamento das comunidades.
Boto cor-de-rosa: o galante encantado

De noite, o boto vira homem de chapéu e fala mansa. Seduz moças, some nas águas e deixa lendas… ou filhos. Por trás da história, mora o encantamento com os rios — suas marés de amor, mistério e desejo. O boto é o romantismo líquido da Amazônia.
A lenda do Boto Cor-de-Rosa revela uma dimensão mais íntima e romântica do folclore amazônico. Segundo a crença popular, o boto se transforma em um jovem elegante e charmoso para seduzir moças ribeirinhas. A história se tornou a forma das comunidades ribeirinhas darem sentido a mistérios da vida e à força sedutora dos rios, que exercem uma influência mística e profunda.
Iara: a beleza perigosa das águas profundas

A Iara canta bonito. Canta tanto que ninguém escapa. A sereia amazônica é sedução e castigo, beleza e tragédia. Representa o poder das águas, que alimentam e afogam, que encantam e cobram caro. A Iara é o espelho d’água da dualidade amazônica.
Conhecida como a Mãe-d’Água, a Iara é a sereia dos rios amazônicos. Com uma beleza estonteante e um canto hipnotizante, ela atrai os homens para as profundezas das águas. A Iara representa a dualidade do rio: a beleza e a riqueza, mas também o perigo e o mistério que esconde. Sua lenda reforça a cautela e o respeito diante da imensidão das águas da Amazônia, um comportamento essencial para a sobrevivência.
Mapinguari e Boiúna: os monstros do limite

Há quem diga que o Mapinguari fede tanto quanto ruge. Um gigante peludo e temido, que protege territórios sagrados. Já a Cobra Grande, ou Boiúna, nada em silêncio, muda o curso dos rios e engole quem não respeita os ciclos. Esses mitos gritam: na floresta, o homem não manda. Observa e aprende.
O folclore amazônico também abriga criaturas temidas, que simbolizam a força indomável da natureza. O Mapinguari, um gigante peludo que emite um rugido aterrorizante, ataca quem desrespeita seu território. Já a Cobra Grande, ou Boiúna, é uma serpente mítica com o poder de mudar o curso das águas. Juntas, essas lendas nos lembram que a Amazônia é um lugar de poder avassalador, onde o ser humano não é o dominante, mas um guardião
Matinta Pereira: a velha que pede tabaco

“Dá tabaco pra Matinta, senão ela volta!” — dizem. À noite, ela vira pássaro e assovia. De dia, pede esmola com voz rouca. Sua lenda é espelho do medo que temos do que não entendemos. Matinta é o segredo sussurrado do folclore amazônico.
A Matinta Pereira é uma das lendas mais ambíguas e fascinantes. A história da Matinta Pereira é uma reafirmação dos mistérios que a noite amazônica guarda, ensinando as comunidades a respeitarem os sons e os segredos da escuridão. Essa lenda varia muito, sendo adaptada por cada comunidade, o que mostra como o folclore é dinâmico e vivo na região.
A Amazônia nos conta suas histórias de muitas formas, mas são suas lendas que guardam a voz ancestral e a alma de uma floresta que se recusa a ser silenciada.

Muito além do folclore: lições vivas
Essas lendas não estão nos livros — estão nos olhos de quem cresceu ouvindo o rio e a floresta. São mapas de convivência, alertas ancestrais, bússolas culturais e cuidados ambientais no respeito à natureza. As lendas amazônicas seguem vivas, porque continuam ensinando.
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