Setor de turismo cresce 6,6% no 1º semestre e ministro Celso Sabino celebra recordes, mas dados oficiais do IBGE e do Ministério do Turismo ignoram o potencial turístico do maior estado do país
Manaus (AM) – O turismo brasileiro vive um ciclo de euforia. Dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE mostram que a atividade cresceu 6,6% no primeiro semestre de 2025 em comparação ao ano passado.
O ministro do Turismo, Celso Sabino, comemorou o desempenho em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, citando transporte aéreo, hospedagem e restaurantes como motores dessa expansão. Mas, em meio às manchetes otimistas, uma ausência salta aos olhos: o Amazonas.







Enquanto estados como Rio de Janeiro (+14,2%), Bahia (+9,3%) e Rio Grande do Sul (+9,4%) aparecem entre os destaques, o maior estado brasileiro, Amazonas, segue fora do radar.
A floresta mais famosa do planeta, a biodiversidade que atrai pesquisadores e aventureiros do mundo inteiro e a cultura de matriz indígena e cabocla — tudo isso permanece invisível nos balanços oficiais. O contraste é revelador: falta ao Amazonas não apenas promoção, mas também infraestrutura e prioridade nas políticas nacionais.
O desafio de sair do papel
O ministro Sabino fez questão de ressaltar que o Brasil é hoje o segundo país que mais cresceu no turismo mundial, segundo a ONU. Cursos de capacitação em idiomas, hotelaria e agenciamento de viagens têm sido ofertados. Para o Amazonas, essa qualificação é vital. O turismo é uma das bases econômicas do estado, mas esbarra em gargalos conhecidos: a conectividade aérea insuficiente, a navegação fluvial precária e a falta de uma estratégia integrada de promoção.
A reação da Amazonastur
Ciente dessa exclusão nos holofotes, a Amazonastur tenta virar o jogo. Em parceria com a Embratur e o Sebrae, lançou o Plano Brasis 2025-2027, voltado ao mercado internacional.
Segundo o presidente do órgão, Marcel Alexandre, o governo estadual aposta em dados e metas para projetar o turismo amazonense com mais clareza estratégica. No interior, o foco tem sido ordenar serviços em destinos como Parintins e Presidente Figueiredo.
Em Manaus, há esforço para formalizar guias e empresas pelo Cadastur e ampliar campanhas de conscientização. Programas como o “+Crédito Amazonas Turismo” e o chatbot Amazonas to Go ilustram a tentativa de modernizar o setor e facilitar o acesso a recursos. Há movimento, mas a distância em relação aos resultados nacionais ainda é grande.
Inclusão sem infraestrutura
Entre os anúncios federais, chamou atenção o desconto de 15% em hospedagens para professores e mulheres que viajam sozinhas, fruto de parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH). É um gesto inclusivo, mas que pouco resolve os gargalos amazônicos. Sem voos regulares e acessíveis ou rotas fluviais seguras, a região continuará de fora das estatísticas, por mais que o brasileiro “nunca tenha viajado tanto dentro do país”, como disse Sabino.
O Norte ainda à margem
A fala do ministro sobre fortalecer o turismo em “cidades periféricas, no entorno de grandes centros” soa como oportunidade perdida quando não há menção direta ao Amazonas. Afinal, aqui os atrativos estão justamente no interior: Parintins, Novo Airão, Barcelos. Lugares que poderiam ser ícones do turismo sustentável, mas que ainda enfrentam dificuldades básicas de acesso e apoio. O Salão do Turismo, que acontece em São Paulo, será vitrine para todos os estados. O Amazonas certamente marcará presença com cultura e gastronomia, mas a mudança real só virá quando houver uma política nacional que entenda a Amazônia não como um detalhe exótico, e sim como um dos pilares do turismo brasileiro. O turismo de base comunitária, que conecta visitantes às realidades locais, é um caminho promissor. Falta transformá-lo em prioridade.
O peso da invisibilidade
Não é que o Amazonas esteja fora da conversa — rádios locais como a Nacional da Amazônia, a Nacional do Alto Solimões e a Clube de Parintins participaram do Bom Dia, Ministro, garantindo voz ao estado. Mas a voz precisa também se transformar em agenda fixa. Até lá, o turismo no Brasil seguirá crescendo sem que a maior floresta tropical do mundo faça parte do mapa.
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