“O passo seguinte é estimar os recursos humanos, tecnológicos e financeiros necessários para a implantação de diversos programas de bioeconomia alinhados com a indústria local, suas demandas e expectativas no adensamento participativo das cadeias produtivas. “
Por Nelson Azevedo (*) [email protected]
O polo industrial de Manaus, como referência de geração de emprego e oportunidades – atreladas à proteção florestal – é imbatível como desafio de redução das desigualdades regionais, nosso maior desafio. E reduzir as diferenças inaceitáveis entre o Norte e o Sul do país, supõe diversificação e interiorização de oportunidades. E interiorizar não pode, jamais, ser pensada como alternativa desvinculada da sustentabilidade, o paradigma sagrado de desenvolvimento para quaisquer atividades produtivas na Amazônia.
Diversificação de baixo carbono
Eis porque a bioeconomia é o caminho natural do adensamento produtivo. Basta imaginar a paisagem fabril e socioambiental da Amazônia se tivéssemos apostado no beneficiamento regional e inovação tecnológica no Ciclo da Borracha. A bioeconomia é uma solução emergente para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, pois tem a capacidade de promover a diversificação justa para novos modelos econômicos de baixo carbono e contribuir para a conservação da biodiversidade única da região. No entanto, é importante qualificar o que se entende por bioeconomia, para que a abordagem não fortaleça ainda mais alguns vetores de desmatamento ou de concentração de riqueza e renda na região.
Sistemas agroflorestais
Para a implantação da bioeconomia na Amazônia, é necessário considerar algumas condições e desafios específicos. Alguns fatores importantes, para começo de conversa, incluem o desenvolvimento rural agroecológico ou agroflorestal: O estabelecimento de sistemas agroflorestais (SAFs), consolidados pela Embrapa, é uma atividade econômica estratégica para a bioeconomia na Amazônia. Esses sistemas promovem o desenvolvimento rural sustentável, combinando práticas agrícolas e florestais para garantir a produção de alimentos e produtos florestais com respeito à conservação ambiental. A indústria do laticínio no Estado obedece aos parâmetros da pecuária do leite estabelecidos pela Embrapa Amazônia Ocidental com avanços extraordinários.
Óleos, resinas, fibras
Outro caminho promissor é a exploração sustentável de produtos florestais não-madeireiros: A bioeconomia no Amazonas já avançou, também no manejo de óleos, resinas, frutas, castanhas e fibras naturais. A indústria já conta com um portfólio robusto de pequenas empresas com o apoio dado ao IDESAM, organização escolhida pela Suframa para fomentar essas atividades com recursos de P&D. Essa opção fabril agrega valor aos recursos florestais sem causar danos significativos ao meio ambiente. Uma das promessas são as resinas demandadas pela indústria, além da inovação tecnológica de itens da segurança alimentar para atender a rotina nutricional da indústria. Trata-se da prospecção e valorização de ativos biológicos da biodiversidade única da Amazônia que oferece uma ampla gama de ativos biológicos com potencial econômico.
Infraestrutura adequada
Nesse contexto, temos um grande desafio e muitas janelas de oportunidades se soubermos promover uma infraestrutura adequada que inclua comunicação acessível, operação logística e acesso a mercados. O isolamento geográfico e as dificuldades logísticas são desafios inadiáveis que precisam ser superados para promover o empreendedorismo nessa área. Estamos convencidos que nossos jovens empreendedores, incluindo os talentos do interior que ingressam na UEA e UFAM, estão afoitos para reunir teoria e prática de novos negócios a partir da diversidade biológica, mineral e dos serviços ambientais.
Segurança jurídica
Uma premissa vital para empreendedores é a segurança jurídica. Sem uma legislação clara e eficiente iremos a lugar algum. Uma legislação simplificada e transparente é essencial para garantir respaldo normativo dos novos empreendimentos relacionados à bioeconomia na Amazônia. A complexidade das leis ambientais e a necessidade de conciliar interesses diversos são desafios que devem ser enfrentados para promover o desenvolvimento sustentável da região. Isso significa tratar empreendedores como parceiros na direção da geração de empregos formais e das atividades não-predatórias.
Recursos humanos e financeiros
Por fim, é preciso preparar em regime de mutirão os novos caminhos do adensamento e da interiorização, promovendo o protagonismo de quem atua historicamente na região. O passo seguinte é estimar os recursos humanos, tecnológicos e financeiros necessários para a implantação de diversos programas de bioeconomia alinhados com a indústria local, suas demandas e expectativas no adensamento participativo das cadeias produtivas. E isso, é óbvio, requer uma análise detalhada das atividades econômicas envolvidas e das necessidades específicas de cada empreendimento. É recomendado assegurar estudos simplificados e conjuntos de viabilidade econômica e ambiental, além de envolver especialistas nas áreas relevantes e, preferencialmente, de interesse conjunto. Vamos em frente!
(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM, além de diretor da CNI.
Leia mais:
Nelson Azevedo: “O rombo fiscal do Brasil fica mais embaixo, não é na Amazônia”
ZFM, um pacto público e privado pela construção da cidadania
Potássio, um desafio para a Amazônia sustentável