Os dados divulgados pelo Tesouro Nacional sobre os gastos públicos do Brasil em comparação com a média global revelam um cenário preocupante e, em muitos aspectos, contraditório.
O país gasta quatro vezes mais que a média internacional com tribunais de Justiça, destinando 1,3% do PIB a essa área, enquanto a média global é de apenas 0,3%. Esse número coloca o Brasil como o segundo maior gastador proporcional do mundo, atrás apenas de El Salvador.
A maior parte desses recursos – quase 80% – é consumida por salários e encargos trabalhistas, o que levanta questionamentos sobre a eficiência e a priorização desses gastos.
Essa discrepância não seria necessariamente um problema se o Brasil também se destacasse positivamente em outras áreas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura. No entanto, o que vemos é um quadro de desequilíbrio: enquanto o Judiciário e a segurança pública recebem investimentos acima da média, setores fundamentais para o desenvolvimento do país continuam subfinanciados.
Saúde
A saúde, por exemplo, recebe apenas 4,7% do PIB, abaixo da média global de 6,2%. Já a educação, embora esteja próxima da média internacional (4,9% do PIB contra 4,5%), ainda carece de investimentos mais robustos para superar desafios históricos, como a qualidade do ensino e a desigualdade de acesso.
Segurança Pública
A segurança pública, por sua vez, consome 2,85% do PIB, valor significativamente superior à média global de 1,8%. Esse alto investimento, no entanto, não se traduz em resultados proporcionalmente positivos. O Brasil continua enfrentando altos índices de violência e criminalidade, o que sugere que o problema não está apenas na quantidade de recursos, mas na gestão e na eficácia das políticas públicas implementadas.
Infraestrutura e Transporte
Outro ponto crítico é o baixo investimento em infraestrutura e transportes, que recebe apenas 3,5% do PIB, contra uma média global de 5,8%. Essa deficiência compromete a competitividade do país, dificulta o escoamento da produção e impacta diretamente a qualidade de vida da população. Enquanto isso, os gastos com juros da dívida pública e despesas administrativas consomem 11,3% do PIB, um valor que poderia ser realocado para áreas mais produtivas e estratégicas.
Prioridades distorcidas
Esses números revelam uma distorção nas prioridades do gasto público no Brasil. O país investe pesado em áreas que, embora importantes, não estão gerando os resultados esperados, enquanto negligencia setores que são a base para o desenvolvimento econômico e social.
É urgente repensar essa lógica e buscar um equilíbrio que permita ao Brasil avançar em direção a um futuro mais justo e sustentável.
A solução passa não apenas por aumentar os recursos em áreas deficitárias, mas também por melhorar a eficiência e a transparência na aplicação dos recursos já disponíveis.
O Judiciário, por exemplo, precisa rever sua estrutura de custos e buscar maior produtividade.
Da mesma forma, os gastos com segurança pública devem ser acompanhados de políticas que efetivamente reduzam a violência e promovam a justiça social.
Enquanto o Brasil continuar a gastar mais para obter menos, estaremos condenados a repetir os mesmos erros do passado. É hora de priorizar o que realmente importa: saúde, educação, infraestrutura e, acima de tudo, o bem-estar da população.
Sem essa mudança de rumo, o país seguirá patinando em um ciclo de ineficiência e desigualdade, distante do desenvolvimento que tanto almeja.