Donald Trump quer o Nobel da Paz. Sim, é isso mesmo. No meio de uma ligação sobre tarifas, o ex-presidente dos EUA aproveitou para pedir ao ministro das Finanças da Noruega que colocasse seu nome na disputa. É o tipo de coisa que só Trump poderia fazer: transformar a diplomacia mundial em balcão de favores pessoais.
A imprensa norueguesa confirmou a cena, que parece saída de uma paródia, mas é real. E o argumento de Trump para merecer o prêmio é igualmente caricato: já que outros presidentes americanos ganharam, ele também deveria ganhar. Como se fosse herança de família, passada de geração para geração.
De fato, Israel, Paquistão e Camboja o indicaram por mediações pontuais em acordos de paz. Mas será que a foto de um aperto de mãos equivale à construção de paz real? Porque, no mesmo período em que negociava trégua lá fora, Trump incitava violência em casa — culminando na invasão ao Capitólio em 2021, um dos maiores ataques à democracia americana.
É aqui que a farsa ganha contornos ainda mais perigosos: o homem que sabota eleições e espalha teorias conspiratórias quer posar como “guardião da paz mundial”. E pior, assume o papel de juiz moral da política internacional, escolhendo alvos de acordo com seu gosto ideológico. A mira? Sempre os governos de esquerda.
No seu discurso, qualquer governo progressista se torna uma ameaça. Não importa se é Lula no Brasil, Maduro na Venezuela ou Gustavo Petro na Colômbia — todos são enquadrados na narrativa de que a esquerda é inimiga da democracia. Mas é curioso: essa cruzada não se sustenta em provas, apenas em preconceito político e conveniência eleitoral. Contra o Brasil, então, virou rotina: ataques vazios, acusações sem fundamento, apenas porque a maior economia da América Latina voltou a ser governada por um líder progressista.
É a velha tática do espantalho: criar inimigos ideológicos para se afirmar como salvador do Ocidente. Só que, nesse teatro, o público é global e as consequências são reais. Quando um político como Trump deslegitima governos eleitos democraticamente só porque são de esquerda, ele não defende a democracia — ele a esvazia.
Por isso, o Nobel que Trump tanto almeja não seria o da Paz. Seria, no máximo, o Nobel do cinismo. A premiação definitiva de que, no palco da geopolítica, a performance vale mais do que a verdade, e a autopromoção mais do que o respeito à democracia.
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