A Polícia Federal (PF) revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava plenamente ciente da venda ilegal de joias e outros presentes de luxo nos Estados Unidos, recebidos durante seu mandato. Ele chegou a acompanhar online um dos leilões e recebeu dinheiro em espécie. Essas informações fazem parte do indiciamento dele e de outras 11 pessoas, tornado público recentemente.
De acordo com o relatório final da PF, Bolsonaro teria formado uma associação criminosa para desviar R$ 6,8 milhões (US$ 1.227.725,12) em itens recebidos em visitas oficiais a outros países.
Venda e entrega de dinheiro em espécie
A investigação aponta que, com o conhecimento de Bolsonaro, seus auxiliares venderam esses presentes e entregaram parte do dinheiro em espécie ao ex-presidente. Esse montante, incorporado ao patrimônio pessoal de Bolsonaro, utilizou intermediários e evitou o sistema bancário formal, para ocultar a origem, localização e propriedade dos valores.
Mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid reforçam o aval de Bolsonaro ao esquema.
Despesas do ex-presidente nos EUA
O dinheiro arrecadado, conforme informações da PF, teria sido usado para custear as despesas do ex-presidente nos EUA entre dezembro de 2022 e março de 2023.
O documento de 476 páginas foi protocolado no Supremo Tribunal Federal e encaminhado pelo ministro Alexandre de Moraes à Procuradoria-Geral da República, que tem 15 dias para se manifestar.
O relatório cita o depoimento do general da reserva Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, que afirmou ter recebido US$ 68 mil pela venda de um relógio, entregando o valor em espécie a Bolsonaro de forma fracionada.
Uma das parcelas foi paga em setembro de 2022 em Nova York, quando o então presidente estava na cidade para a Assembleia Geral da ONU.
A defesa de Bolsonaro classificou o inquérito como “insólito” e afirmou que o ex-presidente não teve “qualquer ingerência direta ou indireta” sobre o tratamento dado aos presentes. A defesa também destacou que o inquérito se concentra exclusivamente no governo Bolsonaro, ignorando situações semelhantes em governos anteriores.
Ironia e esquivo de informação
Inicialmente, a PF divulgou que o valor dos bens somava R$ 25 milhões (US$ 4.550.015,06), mas corrigiu posteriormente o dado para R$ 6,8 milhões. Bolsonaro ironizou o erro, afirmando:
“Aguardemos muitas outras correções. A última será aquela dizendo que todas as joias ‘desviadas’ estão na CEF [Caixa Econômica Federal], acervo ou PF, inclusive as armas de fogo”.
Bolsonaro só não disse que teve que mandar comprar as joias de volta para devolvê-las, depois que o esquema foi descoberto pela Policia Federal.