SAO PAULO – A Avenida Paulista foi novamente palco de um desfile cívico-emocional neste domingo (6), com direito a camisetas da Seleção, gritos por “liberdade” e orações fervorosas — tudo em nome da “anistia humanitária” aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. A estrela do evento? Ele mesmo, Jair Bolsonaro, ex-presidente e agora líder das multidões nostálgicas.
Ao lado de Bolsonaro, o deputado federal do Amazonas, Capitão Alberto Neto (PL-AM) marcou presença no palanque. De fala convicta, o parlamentar reforçou a tese de que as prisões seriam injustas e motivadas por perseguição política.
“A injustiça que está sendo feita com milhares de pessoas não tem tamanho”, afirmou, ignorando — com um certo talento — as centenas de horas de vídeos que documentam os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.
Pessoas de bem
Bolsonaro, por sua vez, caprichou no tom messiânico. Chamou os manifestantes de “pessoas de bem” e garantiu que a maioria dos envolvidos “nunca pegou em uma arma” — ainda que alguns tenham, de fato, pegado em barras de ferro, extintores de incêndio e até obras de arte. Mas tudo isso é detalhe, segundo os organizadores, frente ao verdadeiro vilão da história: o Judiciário.
O ex-presidente também voltou a prometer salvação nacional em caso de um futuro retorno ao poder:
“Me dê 50% da Câmara e 50% do Senado que eu mudo o destino do Brasil”, disse, em mais uma daquelas falas que provocam calafrios em quem ainda se lembra do que aconteceu da última vez que ele teve uma base aliada fiel.
O evento, que reuniu milhares de apoiadores — muitos armados com bandeiras, cruzes e batons — foi descrito por Capitão Alberto Neto como “emocionante”. Segundo ele, o povo estava orando “por um Brasil melhor e mais justo”, ainda que a definição de justiça pareça variar conforme o lado da catraca.
Ao final do ato, Bolsonaro saiu aplaudido, reafirmando que sem ele nas eleições de 2026 “é negar a democracia”. Para muitos que estavam ali, parece que democracia só existe quando ela inclui o ex-presidente — caso contrário, é ditadura, censura, perseguição.
Enquanto isso, os condenados do 8 de janeiro seguem cumprindo pena determinada pela Justiça, em um país onde a interpretação de liberdade ainda parece ser, para alguns, bastante… flexível.
Leia mais:
Bolsonaro mantém campanha por doações após arrecadar R$ 17 milhões em Pix