Em 1930, bolas de fogo caíram no Vale do Javari, liberando energia de 5 megatons e deixando marcas que a ciência brasileira busca desvendar se teria sido um meteorito
O Dia em que o Céu “desabou” no Amazonas
Em 13 de agosto de 1930, a tranquilidade da floresta amazônica acabou rompida por um espetáculo cósmico de grandes proporções. Na remota região do rio Curuçá, no município de Atalaia do Norte, ribeirinhos e povos indígenas testemunharam a queda de múltiplas bolas de fogo que cruzaram o firmamento em direção à Terra.
Este fenômeno, catalogado como o Evento do Rio Curuçá, é reconhecido como o equivalente brasileiro do famoso Evento de Tunguska, ocorrido na Sibéria em 1908.
A Força da Explosão e o Registro Sísmico
Análises do astrofísico brasileiro Ramiro de La Reza, do Observatório Nacional (ON), indicam que o impacto liberou energia estimada em 5 megatons de TNT.
Em outras palavras, a força da explosão não apenas assustou seringueiros e comunidades do Vale do Javari, mas acabou sentida a mais de 100 km, em Tabatinga, e registrada internacionalmente.
A prova sísmica veio do Observatório Sismológico de San Calixto, em La Paz, Bolívia, que detectou um sismo no mesmo dia e horário, com intensidade compatível à queda de um meteorito.
Estudos de imagens de satélite, como do Landsat, identificaram uma marca circular de cerca de 1 km de diâmetro, sugerindo a cratera deixada pelo corpo celeste.
Origem Cósmica: O Rastro do Evento do Rio Curuçá
A data do ocorrido oferece pistas sobre a origem do fenômeno. Especialistas sugerem que o evento foi causado por fragmentos do Cometa Swift-Tuttle, cuja trilha de detritos gera a famosa chuva de meteoros Perseidas, visível anualmente entre 12 e 13 de agosto. Dessa forma, acredita-se que o Evento do Curuçá tenha sido provocado por pedaços maiores, de até 50 metros, desprendidos desse cometa.
A natureza cometária do astro — composta de gelo e poeira — explica a dificuldade em encontrar fragmentos de meteoritos na região, pois a maior parte da energia se gastou na vaporização do objeto e na escavação da cratera.
A Redescoberta e o Legado Científico do Curuçá
O incidente permaneceu esquecido por décadas. Em 1995, o astrônomo inglês Mark E. Bailey encontrou referências a ele em artigos científicos russos e relatos do monge capuchinho Fedele D’Alviano, que descreveu a nuvem de poeira e o pânico dos moradores.
Posteriormente, Ramiro de La Reza liderou expedições científicas utilizando geoprocessamento e GPS para mapear anomalias na paisagem e buscar evidências físicas do impacto. Contudo, apesar da existência da cratera, o Evento do Curuçá continua cercado de mistério e debate científico, devido à localização remota e à ausência de registros fotográficos.
Os estudos conduzidos pelo Observatório Nacional e colaboradores, incluindo pesquisas de Othon Winter e Bertília Leite, destacam a relevância do Evento do Curuçá na discussão sobre a frequência e o risco de catástrofes cósmicas no século XX. Portanto, ele permanece como um testemunho da vulnerabilidade planetária e da importância da pesquisa de objetos próximos à Terra (NEOs).
Saiba Mais: Impactos Cósmicos na Terra
O maior impacto registrado foi o Evento de Tunguska (1908), quando um asteroide ou cometa explodiu a 5–10 km acima da Sibéria, queimando florestas em um raio de até 30 km. Eventos menores, como o meteorito de Chelyabinsk (2013), ocorrem com frequência e podem ferir pessoas, principalmente por estilhaços de vidro.
Para monitorar riscos, a NASA rastreia objetos próximos à Terra (NEOs), asteroides e cometas que se aproximam da órbita terrestre, embora a chance de impactos catastróficos seja muito pequena.
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