Manaus (AM) – Depois de encantar e emocionar o público em outros estados do país, a capital do Amazonas receberá, pela primeira vez, a elogiada montagem ‘Auto da Compadecida, a Ópera’, criada pela Orquestra Ouro Preto a partir de um dos textos mais emblemáticos de Ariano Suassuna. Chicó e João Grilo, personagens centrais desta obra-prima que fizeram sucesso por mais de seis décadas no teatro e no cinema, ressurgem no palco de uma maneira diferente, agora diante de uma ópera-bufa.
Com música original de Tim Rescala, que assina o libreto com o Maestro Rodrigo Toffolo, também responsável pela concepção e direção musical do espetáculo, a turnê de “Auto da Compadecida, a Ópera” chega a Manaus nos dias 23 e 24 de junho, no Teatro Amazonas, e os ingressos estão à venda através do site ShopIngressos.
Com 23 anos de trajetória, essa é a terceira incursão da OOP no universo operístico e a primeira grande produção neste formato, como conta Toffolo: “A ópera é uma arte máxima em que música, teatro, figurino, cenário e iluminação se encontram. Era um sonho antigo da orquestra começar a realizar produções de óperas. Já fizemos duas, ambas em português, ‘O Basculho de Chaminé’ e ‘O Grande Governador da Ilha dos Lagartos’, projetos pioneiros que nos deram sustentação para caminhar para um desafio ainda mais inovador, mais audacioso e de grande fôlego. ‘Auto da Compadecida’ é a nossa primeira grande ópera, totalmente original”.
Para a nova turnê, o maestro espera repetir o sucesso do ano anterior: “Estreamos em 2022 e o resultado foi extremamente positivo. Agora iremos apresentá-la em outras regiões do país e vamos encerrar a turnê com uma apresentação gratuita, em um espaço público da cidade do Rio de Janeiro, para que a obra alcance um público ainda maior”.
A MONTAGEM
O diálogo direto com o público, um dos pilares da produção da Orquestra, está garantido nessa ópera que traz a comédia como elemento principal de sua linguagem. Para cumprir essa missão, formou-se um grande elenco em cena e nos bastidores da montagem. No palco, grandes nomes do canto lírico brasileiro – Fernando Portari, Marília Vargas, Marcelo Coutinho, Carla Rizzi, Jabez Lima e Rafael Siano, além de uma trupe de atores escolhidos para dar voz e corpo ao clássico da literatura brasileira – Glicério do Rosário, Léo Quintão, Claudio Dias, Marcelo Veronez e Maurício Tizumba. A direção de cena é assinada por Chico Pelúcio.
Para abrilhantar ainda mais a produção, trazendo para o palco as raízes da obra de Ariano, o espetáculo conta com figurinos desenhados por Manuel Dantas Suassuna, artista plástico de renome e filho do escritor. Essa parceria traz ainda um maior enraizamento à montagem, agregando o olhar e a criação de quem nasceu, viveu, conhece e reconhece este universo como poucos.
A ideia de trabalhar o texto, escrito em 1955 por Suassuna, surgiu do desejo do maestro de ver em cena uma ópera bufa brasileira capaz de fazer rir e emocionar. “As grandes óperas brasileiras geralmente são cantadas em italiano, então existia essa nossa vontade de ter uma ópera na nossa língua materna”, explica. “A partir daí a gente foi buscar na literatura o que seria esse texto e o encontro com o Auto da Compadecida foi quase que imediato. É uma obra-prima da dramaturgia brasileira, extremamente teatral e operística”, acrescenta.
No entanto, avançar com este projeto significou adaptar um clássico da dramaturgia já consolidado no imaginário popular brasileiro, o que é em si um desafio que impõe riscos. Neste sentido, Tim Rescala diz que “é preciso sempre respeitar a espinha dorsal da obra original”. O compositor revelou que, para alcançar o resultado desejado, a ideia foi criar uma obra derivada, “digamos assim, uma nova obra, porque a linguagem é completamente diferente. E nesse caso, trata-se de cantar uma história, não simplesmente de contá-la, e sobretudo num ritmo diferente que é o ritmo musical. Quando se canta uma cena, ela tem uma duração e um ritmo interno totalmente diferentes de um texto falado. Então o desafio inicial é esse e, evidentemente, o outro é criar uma coisa nova, mas ao mesmo tempo respeitando a espinha dorsal. E eu acho que a gente conseguiu isso com o Auto da Compadecida”, avalia o arranjador.
Ao encontro da excelência que conduziu Toffolo e Rescala a uma grande ópera, foi também a visão do diretor de arte Luiz Abreu, que se viu diante de novos desafios, mesmo após tantos anos trabalhando com grandes espetáculos. “Uma ópera é concebida como uma ‘arte completa’. Em palco, a justaposição de figurinos, cenários, dramaturgia, iluminação, engenharia de som e outros tantos itens devem elevar a música à quintessência. E essa composição, para ser feita com excelência, exige um alto nível de dedicação e atenção”, conta Abreu, que também é diretor de marca da Ouro Preto.
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