O sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, o Pix, entrou na mira dos Estados Unidos em mais uma ofensiva da gestão do presidente Donald Trump contra o Brasil. A ameaça de uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras, anunciada na semana passada, ganhou força com a declaração do representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, que confirmou nesta terça-feira (15) o início de uma investigação por práticas comerciais “injustas”.
Segundo Greer, a investigação será conduzida com base na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, mesma regra usada por Trump no passado para justificar tarifas contra a China.
O foco agora está sobre o tratamento brasileiro ao comércio digital, serviços de pagamento como o Pix, tarifas preferenciais e decisões judiciais recentes.
“Por orientação do presidente Trump, estou iniciando uma investigação da Seção 301 sobre os ataques do Brasil”, declarou Greer em comunicado oficial.
Trump acusa Brasil de prejudicar empresas americanas
A representação comercial dos EUA acusa o Brasil de aplicar barreiras tarifárias e não tarifárias que prejudicam empresas norte-americanas de tecnologia, trabalhadores, agricultores e inovadores.
Segundo o governo Trump, o Brasil estaria favorecendo exportações de outros países com tarifas mais baixas, além de falhar no combate à corrupção e ao desmatamento ilegal — fatores que, segundo os EUA, afetam diretamente a competitividade de setores como o de madeira e etanol.
O anúncio ocorre poucos dias após Trump ligar publicamente a nova tarifa de 50% a decisões do Judiciário brasileiro envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e empresas de tecnologia dos EUA, o que surpreendeu especialistas pela clara conexão entre temas comerciais e questões internas do Brasil.
Brasil reage: “intromissão indevida”
Em resposta, o governo brasileiro divulgou nota dura, classificando a atitude dos EUA como uma “nova intromissão indevida e inaceitável” nos assuntos internos do país.
O posicionamento veio após o Departamento de Estado dos EUA acusar, em publicação nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o STF de atacarem a liberdade de expressão e o ex-presidente Bolsonaro.
Já o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), afirmou que o Brasil buscará reverter a tarifa de 50% o mais rápido possível, não descartando a solicitação de mais prazo para negociação.
Seção 301: o instrumento da guerra comercial
Utilizada amplamente durante o primeiro mandato de Trump, a Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 permite ao governo dos EUA aplicar sanções comerciais unilaterais em caso de práticas consideradas injustas por seus parceiros.
O mesmo instrumento já foi usado contra países europeus por impostos sobre serviços digitais aplicados a big techs americanas como Google, Meta e Amazon.
A nova ofensiva contra o Brasil, que inclui críticas ao Pix, tarifas sobre etanol e a ausência de ações contra o desmatamento, pode intensificar ainda mais a tensão diplomática entre os dois países — e impactar setores estratégicos da economia brasileira.
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