Por que a Zona Franca ainda é vital para o Brasil
O Brasil, fora do eixo da região Norte, só lembra da Amazônia quando ela está pegando fogo ou quando surge uma nova proposta para mexer nos incentivos da Zona Franca de Manaus (ZFM). Criado em 1967, o modelo de desenvolvimento que combina floresta em pé com indústria de base tecnológica ainda precisa, em 2025, ser explicado e defendido.
A cada tentativa de retirada de benefícios fiscais, o argumento é o mesmo: “custo para o país”. Mas o que está por trás dessa narrativa é um velho vício centralizador: a incapacidade de enxergar a Amazônia como parte legítima do projeto de Brasil. E não como um quintal longínquo.
“A floresta é mantida em pé sob uma lógica econômica. Só é sustentável se mantiver a diversidade e puder gerar renda”, alerta o governador do Amazonas, Wilson Lima, ao defender o papel estratégico da Zona Franca em fóruns ambientais e econômicos. O discurso de defesa virou rotina — como se fosse preciso justificar o óbvio.
Não é privilégio. É pacto nacional.
O modelo da ZFM não é um favor do Brasil ao Norte. É o cumprimento de um pacto federativo que reconhece os custos logísticos, climáticos e geográficos da região. E, mais do que isso, é uma estratégia real de ocupação produtiva com preservação.
Quem atua diretamente no modelo sabe o que está em jogo. Bosco Saraiva, superintendente da Suframa, costuma lembrar que o polo industrial não é só uma planilha — é uma âncora de civilização:
“A Zona Franca é tudo o que temos. Não é de hoje que o estrangeiro está de olho aqui. Além dos empregos, temos a farmácia do planeta com nossa bioeconomia. Precisamos difundir isso e defender um projeto vitorioso, que é de todos nós.”
Essa visão é compartilhada por quem representa o setor produtivo. Para Nelson Azevedo, da FIEAM, o modelo exige vigilância permanente, justamente por ainda ser alvo de disputas políticas:
“A ZFM continua sendo alvo de questionamentos e precisa de um trabalho constante de defesa e modernização.”
E ele tem razão. Toda vez que o governo federal cogita mexer nos tributos da Zona Franca, o impacto é imediato — e a insegurança jurídica afasta investimentos. Só em 2023, o setor de duas rodas quase recuou diante de mudanças mal planejadas no IPI. Brasília ameaça. Manaus segura.
Zona Franca: floresta e emprego
Os dados sustentam a narrativa: a ZFM emprega mais de 500 mil pessoas direta e indiretamente, movimenta R$ 160 bilhões por ano e mantém a floresta como ativo econômico real. Não é coincidência que onde há indústria, há menos desmatamento. E onde há desmonte, há garimpo.
Ex-superintendente da Suframa, Rebecca Garcia testemunhou esse processo de dentro:
“A Zona Franca de Manaus é um modelo de desenvolvimento que transformou os rumos do nosso Estado do Amazonas.”
Ainda assim, é comum ver parlamentares do Sudeste atacando o modelo sem jamais terem pisado em Manaus. E é aí que a crítica vira ataque — e a defesa vira resistência.
No Senado, Eduardo Braga tem sido uma das vozes mais contundentes:
“Tenho um compromisso inarredável com as vantagens comparativas da ZFM. Sem a Zona Franca, a região estaria vivendo uma devastação da floresta e dos empregos.”
O Brasil que ainda precisa da Amazônia
O futuro da Zona Franca é também o futuro da Amazônia urbana. Enquanto o mundo discute economia verde, o Brasil insiste em ameaçar o único modelo que conseguiu, até aqui, equilibrar crescimento com conservação.
A ZFM é mais do que um polo industrial. É uma linha de defesa. Uma fronteira civilizatória. Um trunfo geopolítico que poucos países têm — e que o Brasil parece sempre prestes a desprezar.
Que a Zona Franca resista, porém valorizada!
Leia mais:
Zona Franca de Manaus, oportunidades e desafios no novo cenário geopolítico global