“Investimentos em ações de resiliência, com uma abordagem proativa para a gestão de mudanças climáticas, são indispensáveis para garantir a estabilidade econômica da região e do país. As lições aprendidas aqui devem moldar não apenas a recuperação pós-tragédia, mas também a preparação para futuros desafios ambientais e econômicos”
Por Nelson Azevedo – [email protected]
As recentes enchentes que devastam o Rio Grande do Sul não apenas impuseram deslocamento critico de milhões de pessoas como deixam cenários de destruição sem precedentes. Os alertas já ressoaram também os impactos econômicos para além de suas fronteiras geográficas. A solidariedade nacional, que amplia a chama da esperança e da crença na humanidade – reforçada pelas discussões e iniciativas entre autoridades públicas e o setor privado, destaca uma lição vital: a importância da prevenção e da resiliência em face das mudanças climáticas. A tecnologia já nos permite antever o caos, só nos resta conjugar a prevenção e planejar a mitigação dos danos.
Mobilização solidária
Os impactos chegaram à Amazônia, onde é gratificante destacar, principalmente, a mobilização solidária de nossa gente. Nos reflexos econômicos, o polo industrial já mapeou alguns setores de suprimentos que precisam de atenção. Assim como já ocorre no país e nas relações internacionais, a Zona Franca de Manaus (ZFM), que responde por uma fatia significativa da economia regional, será diretamente influenciada pela tragédia climática no sul do país. Temos certeza, porém, que o mesmo princípio solidário vai prevalecer no equacionamento da crise.
Interdependência regional
Segundo um relatório da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), as cheias afetaram 80% da atividade econômica gaúcha, impactando indústrias críticas como a metalomecânica, móveis, alimentos, calçados e químicos. Essas interrupções afetam não só a produção local, mas também a disponibilidade de matérias-primas essenciais para a ZFM, no contexto da interdependência econômica entre as regiões.
Desafios logísticos e inflacionários
A ruptura nas cadeias de suprimentos é um dos efeitos mais imediatos das enchentes. Com infraestrutura danificada e rotas de transporte comprometidas, os custos logísticos para a ZFM se alteram substancialmente, ameaçando atrasar a produção e a entrega de bens finais. Este cenário é exacerbado pelo potencial inflacionário da destruição de estoques de produtos básicos como o arroz, entre outros itens da dieta nacional, forçando o governo federal a intervenções como a importação emergencial de até 1 milhão de toneladas do cereal para estabilizar os preços.
Medidas Proativas
A crise atual evidencia a necessidade urgente de diversificação das fontes de matéria-prima e de aprimoramento da infraestrutura logística na Zona Franca de Manaus. A implementação de estratégias mais robustas de gestão de riscos e continuidade de negócios se faz essencial para mitigar futuras interrupções. Além disso, é crucial a adoção de políticas públicas que reforcem a infraestrutura e a capacidade de resposta a desastres tanto em âmbito local quanto nacional. Afinal, a vazante será tão ou mais grave que 2023, e seus danos serão uma incógnita se não assegurarmos as medidas que se impõem.
Áreas de risco
Aproxima-se mais uma temporada eleitoral. Está na hora de assumir compromissos e honrar promessas. Soluções existem e elas não podem estar submetidas ao crivo eleitoreiro. O crivo, todos sabemos, é o interesse público. Não podemos esquecer que, mesmo distantes, estamos praticamente ao nível do mar. E isso representa um alerta permanente. Nossas periferias, quase todas, estão em áreas de risco. Vazantes ou enchentes extremas são sinônimos de sofrimentos dos mais despossuídos.
Só nos resta aprender e fazer
As enchentes no Rio Grande do Sul oferecem uma perspectiva sombria, mas necessária, sobre as vulnerabilidades inter-regionais do Brasil. Para a Zona Franca de Manaus, os eventos são um lembrete da necessidade de fortalecer suas cadeias de suprimentos e sua capacidade de adaptação. Investimentos em ações de resiliência, com uma abordagem proativa para a gestão de mudanças climáticas, são indispensáveis para garantir a estabilidade econômica da região e do país. As lições aprendidas aqui devem moldar não apenas a recuperação pós-tragédia, mas também a preparação para futuros desafios ambientais e econômicos.
(*) Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus – SIMMMEM, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.