Comportamento de grandes felinos ajuda a entender ataque que matou jovem em João Pessoa
Cientistas detalham como felinos percebem humanos em situações de risco
João Pessoa (PB) – A morte do jovem de 19 anos conhecido como “Vaqueirinho de Mangabeira”, que entrou no recinto de uma leoa no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, em João Pessoa, reacendeu um debate urgente: o que acontece no cérebro de um grande felino quando um ser humano invade seu território?
Vídeos mostram o rapaz escalando a estrutura do zoológico, ultrapassando barreiras internas e alcançando o espaço da leoa. O ataque ocorreu em segundos, diante de visitantes que nada puderam fazer. A Polícia Civil investiga se a entrada foi deliberada e, até agora, não identificou falhas na estrutura.
A ciência, porém, ajuda a explicar por que o desfecho foi tão imediato e tão letal.
Leões em recintos interpretam humanos como invasores — não como visitantes
Pesquisadores como o zoologista Geoff Hosey, referência mundial no estudo da relação entre animais de zoológico e público, explicam que grandes felinos classificam humanos de três formas: ameaça, elemento neutro ou sinal comportamental semelhante ao de outro animal. Tudo depende da distância e do contexto.
Quando alguém ultrapassa uma barreira física, essa classificação muda de imediato.
O felino não vê um “turista”. Ele vê um corpo estranho entrando no centro do território.
Estudos sobre o chamado “efeito dos visitantes” mostram que a presença humana pode elevar o estresse de felinos, alterar padrões de vigilância e aumentar comportamentos defensivos.
Por que o ataque é tão rápido? Pesquisas têm a resposta
A literatura científica mostra três mecanismos essenciais:
1. A violação do território ativa reação defensiva imediata
No cativeiro, o recinto é o núcleo de segurança do animal. Cruzou a barreira, acende o alerta.
2. A avaliação do humano é feita pela postura, cheiro e movimento
Movimentos bruscos ou instáveis tendem a intensificar a reação. Felinos analisam padrões — e um humano sem uniforme, sem rotina de manejo, entra no campo de “estímulo imprevisível”.
3. Em recintos, não há rota de fuga
Estudos mostram que grandes felinos cercados tendem ao “confronto defensivo de curta distância”, reação automática descrita na literatura etológica.
Especialista real: “A postura humana muda a interpretação do felino”
O biólogo da conservação Dr. Alexander Braczkowski, pesquisador da Griffith University, analisou ataques similares na Austrália e explica como o felino lê o corpo humano:
“Leões respondem de forma diferente à postura humana. A aproximação direta, brusca ou muito próxima pode ser interpretada como ameaça, principalmente dentro do território do animal.”
Braczkowski também descreve outro fator decisivo:
“Em cativeiro, alguns felinos perdem o medo natural dos humanos e podem associar a figura humana ao alimento. Quando alguém entra no recinto, o risco se multiplica.”
Dinâmica da invasão do jovem
O jovem escalou uma parede de mais de seis metros, passou por grades internas e usou uma árvore como apoio até alcançar o recinto. A ação levou poucos minutos.
O ataque, poucos segundos. A equipe isolou a leoa em seguida; sedação não foi necessária.
Perícia avalia intencionalidade da entrada
A Polícia Civil analisa a possibilidade de entrada deliberada.
A Prefeitura afirma que:
- protocolos estavam ativos;
- agentes tentaram impedir a escalada;
- a ação ocorreu rápido demais para bloqueio.
O zoológico permanece fechado para auditoria.
Análise final: a reação não é predatória — é defensiva
Com base nos estudos revisados, especialistas afirmam:
- o ataque não se enquadra em “caça”;
- trata-se de resposta automática de proteção do território;
- o comportamento é amplificado pela ausência de rotas de fuga;
- ambientes de cativeiro favorecem reações mais intensas quando há invasão.
A tragédia, portanto, não revela agressividade gratuita da leoa — e sim um mecanismo biológico que se ativa quando o limite territorial do animal é rompido.
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