Comunidade afirma que mortos não estão na contagem oficial; número total pode ultrapassar mais de 130 vítimas
Por Tâmara Freire – Agência Brasil | Edição ampliada por Gláucia Chair
Rio de Janeiro (RJ) — A madrugada desta quarta-feira (29) amanheceu sob um cenário de horror no Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. Moradores relatam ter encontrado e retirado cerca de 60 corpos em uma área de mata da comunidade, após a chamada Operação Contenção, deflagrada pelas forças de segurança do estado na terça-feira (28). Números podem ultrapassar mais de 130 vítimas.
As imagens que circularam nas redes mostram corpos sendo levados por carrinhos de mão e dispostos na Praça São Lucas, no coração da comunidade. Segundo relatos, os mortos não fazem parte da contagem oficial de 64 vítimas divulgada pelo governo fluminense, que inclui 60 suspeitos e 4 policiais.
Se confirmada a denúncia, o total de mortos poderá ultrapassar 120 pessoas, configurando a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro.
“Uma chacina histórica”
O ativista Raul Santiago, morador do complexo, fez uma transmissão ao vivo classificando a ação como “uma chacina que entra para a história do Brasil”. Ele afirmou que muitas vítimas estavam em áreas de difícil acesso, o que teria atrasado o resgate e o recolhimento oficial dos corpos.
Atendendo a pedidos de familiares, moradores expuseram os corpos para que fossem registrados pela imprensa e por defensores de direitos humanos, antes de cobri-los com lençóis à espera do Instituto Médico-Legal (IML).
Contradições e silêncio oficial
Apesar da pressão popular e das imagens amplamente divulgadas, a Polícia Militar ainda não atualizou o número oficial de mortos. O Corpo de Bombeiros iniciou na manhã de hoje a retirada dos corpos, enquanto equipes da Defensoria Pública e da Ouvidoria da Polícia tentam confirmar se há vítimas fora da lista oficial.
Durante a noite de terça-feira (28), outros seis corpos foram encontrados em área de mata no Complexo do Alemão e levados para o Hospital Getúlio Vargas. Caso esses casos não se sobreponham às mortes da Penha, o total pode chegar a 130 vítimas, um número sem precedentes em uma única operação de segurança pública.
Operação sob críticas
🚨URGENTE – Fotógrafo, que mora no Complexo do Alemão, diz que já chegaram 57 corpos buscados pelos moradores na mata, após a operação contra o crime
— SPACE LIBERDADE (@NewsLiberdade) October 29, 2025
Afirma que muitos outros corpos estão chegando e que o número de 64 mortos registrados, provavelmente, vai dobrar. pic.twitter.com/HStXhOpdi5
A Operação Contenção foi anunciada pelo governo do Rio como uma ação conjunta para “restringir o avanço de facções” e “restabelecer a ordem em áreas conflagradas”. No entanto, entidades de direitos humanos apontam excesso de força, ausência de transparência e indícios de execuções sumárias.
Organizações como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch já se manifestaram cobrando investigação independente. A ONU, em outras ocasiões, classificou operações semelhantes no Rio como “padrões de violência de Estado” e pediu o fim das ações letais em favelas.
Contexto e impacto
As operações policiais em comunidades dominadas por facções — como o Comando Vermelho e o Terceiro Comando Puro — têm se intensificado desde 2023, em meio à disputa por territórios estratégicos para o tráfico e contrabando de armas.
Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, o Complexo da Penha é uma das áreas mais afetadas por confrontos no estado, com aumento de 40% nos tiroteios envolvendo forças de segurança em 2025. Especialistas afirmam que essas ações têm impacto direto na vida da população civil, com interrupção de serviços, escolas e transporte.
Investigação em curso
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que instaurou procedimento para apurar possíveis abusos e mortes fora de confronto direto. A Corregedoria da PM também deverá avaliar a conduta dos agentes.
Enquanto isso, famílias se organizam para identificar e enterrar seus mortos, e a comunidade exige respostas. “O Estado não pode tratar uma favela como território inimigo”, afirmou um morador que preferiu não se identificar.
Se confirmadas as denúncias dos moradores, a Operação Contenção deixará uma marca trágica: o maior massacre policial já registrado no país.
Matéria atualizada às 10h45 de 29/10/2025.
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