Manaus (AM) – A Polícia Civil do Amazonas solicitou à Justiça a prisão da médica Juliana Brasil e da técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva, investigadas pela morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, após atendimento no Hospital Santa Júlia, na capital amazonense.
O pedido foi protocolado na manhã desta segunda-feira (15), após o avanço das investigações, que apontam uma sequência de falhas no atendimento médico e possíveis irregularidades profissionais.
Polícia aponta uso irregular de especialidade médica
De acordo com o inquérito, a médica Juliana Brasil utilizava carimbo e assinatura com indicação de especialidade em pediatria, mesmo sem possuir o título reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). A conduta pode configurar falsidade ideológica e uso de documento falso.
Durante a investigação, a polícia teve acesso a mensagens trocadas entre a médica e outro profissional de saúde, nas quais ela reconhece erro na prescrição do medicamento administrado à criança. A defesa afirma que a admissão ocorreu em um momento de forte abalo emocional.
Técnica aplicou medicação sem dupla checagem
A técnica de enfermagem Raiza Bentes Paiva é investigada por ter aplicado a medicação conforme a prescrição, sem questionar a via ou a dosagem indicadas. Segundo a Polícia Civil, não foi realizada a dupla checagem obrigatória para medicamentos de alto risco.
Delegado classifica caso como erro sistêmico
O delegado Marcelo Martins afirmou que a morte de Benício foi resultado de um erro sistêmico, envolvendo diferentes profissionais e setores do hospital. Conforme a investigação, a adrenalina foi prescrita por via endovenosa, quando o protocolo médico indicava nebulização.
A própria médica reconheceu a inadequação da conduta, registro que consta no prontuário e em mensagens anexadas ao inquérito.
Sistema do hospital passará por perícia
A defesa de Juliana Brasil apresentou um vídeo sugerindo que o sistema eletrônico do hospital pode ter alterado automaticamente a via de administração do medicamento. Embora uma vistoria preliminar não tenha identificado falhas no software, a Polícia Civil confirmou que uma perícia técnica será realizada.
O laudo deverá esclarecer se o erro foi humano, tecnológico ou uma combinação dos dois fatores.
Falhas estruturais no hospital são investigadas
Além das condutas individuais, a Polícia Civil apura possíveis falhas estruturais no Hospital Santa Júlia, como a ausência de um farmacêutico no setor no momento do atendimento. Segundo o delegado, a presença desse profissional poderia ter evitado o erro antes da aplicação do medicamento.
Justiça revoga habeas corpus da médica
Na sexta-feira (12), a Justiça do Amazonas revogou o habeas corpus que concedia liberdade provisória à médica Juliana Brasil. A decisão foi assinada pela desembargadora Carla Maria Santos dos Reis, que considerou a Câmara Criminal incompetente para analisar o pedido.
Apesar disso, Juliana Brasil e Raiza Bentes Paiva seguem respondendo ao inquérito em liberdade.
Caso segue sob investigação
A Polícia Civil mantém o caso sob investigação por homicídio e afirma que novas diligências serão realizadas. O Tribunal de Justiça do Amazonas ainda deve decidir sobre possíveis novas medidas cautelares contra as investigadas.
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