Brasília–DF –O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista à rádio CBN nesta terça-feira (18/6), delineou os critérios que guiarão sua escolha para a presidência do Banco Central. Comprometido com a estabilidade econômica e o crescimento do país, Lula enfatizou a necessidade de um líder maduro, responsável e imune às pressões de mercado, que priorize os interesses dos 213 milhões de brasileiros. Com o fim do mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto, no final do ano, a indicação para o cargo assume relevância estratégica.
Autonomia do Banco Central
Lula questionou a autonomia do Banco Central. Segundo ele, um presidente do BC que vai a uma festa com interesse político, está suscetível a pressões do mercado. O presidente afirmou ainda que sua indicação para presidir o Banco Central (o mandato do atual, Roberto Campos Neto, termina no fim do ano) será uma pessoa séria, comprometida com o controle da inflação e o crescimento do País.
Veja entrevista:
Rádio CBN: A mudança no Banco Central com a saída do Campos Neto, na avaliação do senhor, reverte a política de juros? O governo alguma maneira vai ter alguma interferência? O Gabriel Galípolo, cotado para a presidência do BC, é um nome com o qual o governo acredita que estará mais bem sintonizado?
Presidente Lula: Cátia, sabe qual a vantagem que eu tenho sobre vocês nessa pergunta? É que eu tenho já muito tempo de experiência. Eu já lidei muito bem com o Banco Central. O Henrique Meirelles era o meu presidente do BC e eu duvido que o atual presidente, Roberto Campos, tenha mais autonomia do que tinha o Meirelles. Duvido. O que é importante entender é a quem esse rapaz é submetido. Como ele vai numa festa em São Paulo quase que assumindo uma candidatura a um cargo do governo de São Paulo? Cadê a autonomia dele?
Então veja, eu trato com muita seriedade. Eu vou escolher um presidente do Banco Central que seja uma pessoa que tenha compromisso com o desenvolvimento desse País, com o controle da inflação, mas que também tenha na cabeça que não é só no controle da inflação que tem de pensar. Nós temos que pensar também no crescimento. Porque é o crescimento econômico e o crescimento da massa salarial que vão permitir que a gente possa controla a inflação com tranquilidade.
Experiência Política
Eu me reuni com quatro banco internacionais que vieram ao Brasil. Eu encontrei a presidenta do FMI em Hiroshima e ela me disse “o Brasil vai crescer só 0,8%” e eu disse “a senhora não conhece o Brasil, o Brasil vai crescer mais’. E nós crescemos quase 3%. Nós vamos crescer porque nós estamos fazendo com que a economia cresça.
Indústria
Nós criamos o programa Nova Indústria Brasil para fazer investimentos na indústria. Estamos fazendo investimentos na bioeconomia, estamos tentando trabalhar a transição energética com uma força extraordinária. Nunca um país teve tantas possibilidades no setor energético como nós temos agora, e nós não vamos jogar fora essa oportunidade.
Rádio CBN: Presidente, o Sr. Fez uma citação agora a Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), a propósito de uma cerimônia que aconteceu em São Paulo com a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e até citou que está quase se lançando para um cargo no governo Tarcísio. O Sr. Acredita que o governador Tarcísio tenha interferência nas decisões do Roberto Campos Neto no BC?
Presidente Lula: Sinceramente, tem mais do que eu. Como ele encontrou com o Tarcísio numa festa? A festa foi do Tarcísio para ele. Foi uma homenagem que o governo de São Paulo fez para ele. Certamente porque o governador de São Paulo está achando maravilhoso uma taxa de juros de 10,5%. Então, quando ele se lança a algum cargo, eu fico imaginando se nós vamos repetir o Sergio Moro (ex-juiz que o condenou para tirar Lula da eleição de 2018, foi considerado suspeito e incompetente pelo STF, tentou disputar a presidência em 2022 e elegeu-se senador). O presidente do BC está disposto a fazer o mesmo papel que o Moro fez? Um “paladino da justiça” com rabo preso a interesses políticos?
Pergunta do Ouvinte
Rádio CBN: Presidente, nós recebemos muitas perguntas de ouvintes que gostariam de fazer perguntas ao Sr. Quero fazer uma delas, do Silvio, um ouvinte de São Paulo. Aproveitando essa fala de que o senhor teve muita experiência. Ele pergunta: comparando os outros mandatos com o atual, quais são as principais diferenças que o senhor identifica como claras? E aí pensando no contexto dos Três Poderes no Brasil, e na relação com o Congresso Nacional.
Presidente Lula: Cátia, obrigado pelo ouvinte que fez essa pergunta que dá oportunidade de explicar algumas coisas. Quando eu peguei o governo em 2003, havia um sinal de crise econômica, mas era um governo que tinha passado também por um período de crescimento – depois também de um momento de queda e de um processo de recuperação. Nós levamos um tempo, colocamos a casa em ordem e conseguimos fazer o país crescer. Agora não.
Agora nós pegamos um país semidestruído. Como se fosse a Faixa de Gaza. Totalmente destruído, todas as políticas públicas. Nós tivemos que reconstruir ministério por ministério. Nós até hoje temos ministério que 30% dos funcionários que tinha em 2010. Então não é possível você pensar em reconstruir o Brasil, cuidar da Amazônia, do meio ambiente, do Pantanal, do Pampa, do Cerrado, da Caatinga, cuidar dos pobres, cuidar da educação, se você está com o governo desmontado.
Nós passamos um tempo muito grande montando o governo. Abrindo concursos, tentando construir. Agora as coisas estão mais ou menos alinhadas, ainda faltam algumas coisas, a companheira Marina (Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima), por exemplo, ela tem 700 funcionários a menos no Ibama.
Se a gente conseguir fazer isso, todo mundo vai ganhar. O empresário vai ganhar porque o povo vai virar consumidor de seus produtos, o trabalhador vai ganhar porque vai viver melhor. Agora, qual é coisa extraordinária que eu tenho. Desta vez eu tenho um governo mais experiente. Esses ministros que foram governadores de estado prestam um trabalho incomensurável, a agilidade de fazer as coisas.
Inclusão Social
Rádio CBN: Essa pergunta que o ouvinte fez aqui, e que o senhor acabou não citando em sua resposta, é sobre como se relacionar com o Congresso Nacional. E aí eu aproveito uma fala de um dos seus líderes, Jaques Wagner (Senado), quando ele falou “você teve um presidente Lula, agora tem outro, o pique é o mesmo, mas a disponibilidade pode não ser a mesma”. O senhor estaria cansado desse varejo da política? Mudou a forma de negociar com o Congresso?
Presidente Lula: Mudou muito, Milton. Mudou muito.
Rádio CBN: Para melhor ou para pior?
Presidente Lula: Deixa eu te contar uma coisa. No governo anterior, como ele (Bolsonaro) não governou o país, porque ele governou uma indústria de mentiras, de fake news, ele deixou o (ex-ministro Paulo) Guedes fazer o que quisesse na economia e ele deixou o Congresso fazer o que quisesse. Ele não se preocupava com orçamento.
Sobre conversas com o Congresso….
Presidente Lula: Nós conseguimos primeiro conversar muito com o Congresso. Os ministros têm conversado muito, os líderes, eu, o Haddad, nós estamos fazendo as coisas andarem, nem sempre com a rapidez que gente queria. Mas a gente tem de levar em conta também que o Congresso tem contribuído. A PEC da transição foi uma coisa extraordinária, aprovar a reforma tributária com a pressa que o Congresso aprovou foi extraordinário, e nós agora esperamos que haja a regulamentação. Mas na política você sempre tem problemas.
Sobre o apoio do Congresso…
Presidente Lula: Eu conto uma história, que você se lembra. O Sarney foi presidente, e tinha o apoio de 323 constituintes e de 23 governadores. E ele tinha muita dificuldade com o Congresso Nacional. Foi o Congresso que reduziu o mandato dele. Imagina eu, de um partido que tem 70 de 513 deputados? Nove senadores de 81? Então eu tenho que exercitar a arte de conversar, de convencer. Nem sempre você consegue 100% do que você quer, às vezes você consegue 80%, às vezes você perde. Mas isso faz parte. O Obama foi presidente dos Estados Unidos por oito anos e não aprovou nada. Faz parte do jogo democrático.
Veja a entrevista completa em vídeo:
- Com informações da Agência Brasil e Rádio CBN.