Em nome do amor? Campanha com foto de Djidja causa revolta
Por Portal Meu Amazonas
Manaus (AM) – Nem todo gesto de marketing é um tributo. Às vezes, é só descompasso com a dor alheia. Foi assim que muitos amazonenses reagiram à campanha de Dia das Mães lançada pela rede de salões Belle Femme, ao estampar a ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, ao lado da mãe e do irmão — ambos condenados por envolvimento na morte dela.
A imagem, que circula nas redes sociais com ares de homenagem, acabou reacendendo o luto coletivo e levantando uma nuvem densa de críticas.
“É como passar perfume em tragédia e esperar que a gente ache bonito”, comentou uma seguidora.
A internet não perdoou: chamou de desrespeito, de exploração da memória e até de cinismo familiar.
A memória como propaganda
Djidja morreu em maio de 2024, aos 32 anos, em circunstâncias marcadas pela suspeita de overdose por cetamina. O caso arrastou nomes, manchou reputações e virou manchete nacional. Ainda assim, o salão, que pertence à família, decidiu seguir usando a imagem da ex-sinhazinha como símbolo da marca — mesmo com a justiça condenando mãe e irmão por tráfico e associação ao tráfico.
Em nota, a empresa justificou que “Djidja sempre será filha de Cleusimar, e esse vínculo não se desfaz, nem com a dor”.
Prometeram não tirar a campanha do ar. Alegaram que ela representa “amor eterno” e que a memória de Djidja continua viva no salão que ela ajudou a construir.
A condenação que silencia o discurso
A Justiça, no entanto, foi menos poética. Cleusimar Cardoso e Ademar Farias Cardoso, condenados a mais de 10 anos de prisão, seguem em poder da justiça.
Ao lado deles, outras figuras do convívio de Djidja também foram responsabilizadas: a ex-gerente do salão, o personal trainer, funcionários de uma clínica veterinária e até o ex-namorado da ex-sinhazinha.
Terminaram absolvidos apenas os maquiadores e um auxiliar da clínica, num enredo tão complexo quanto perturbador.
O marketing que desrespeita o luto
A pergunta que ecoa é simples: é possível homenagear alguém ignorando a ferida aberta em torno da morte dessa pessoa? A resposta, ao que tudo indica, está vindo em forma de unfollows, comentários indignados e repúdio público.
Entre a memória e o mercado, o limite é o respeito. E há casos em que o silêncio seria mais elegante — e mais humano.
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