Manaus (AM) – Nem sempre o amor chega pela estrada conhecida. Às vezes, vem de longe, atravessa fronteiras, fala outra língua — mas reconhece, no olhar, a mesma busca por abrigo. Foi assim que um casal estrangeiro se encantou pela história de quatro irmãos amazonenses, hoje acolhidos em um abrigo no interior do Estado, e decidiu transformar afeto em compromisso: adotá-los, juntos.
A Corregedoria-Geral de Justiça do Amazonas (CGJ-AM), por meio da Comissão Judiciária de Adoção Internacional (Cejaia-AM), está acelerando o trâmite que pode oficializar esse encontro de destinos. Na manhã desta quinta-feira (24/04), o casal esteve em reunião com o desembargador José Hamilton Saraiva dos Santos, corregedor-geral e presidente da comissão, para avançar nas etapas do processo.
Adoção além das formalidades
Eles têm 4, 5, 7 e 12 anos. Quatro idades, uma infância marcada por perdas, acolhimento e agora — talvez — uma nova chance de recomeçar. Após decisão judicial que os destituiu do poder familiar, os irmãos passaram a viver em instituição, sob cuidado do Estado. Mas o vínculo entre eles permaneceu inquebrável — e foi justamente esse laço que o casal estrangeiro se comprometeu a preservar.
“Nos casamos já com o desejo de adotar. Quando conhecemos a história deles, sentimos que esse era o momento. Queremos ser mais do que pais — queremos ser porto”, disse o casal, emocionado.
Eles já estão habilitados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), e o processo avança conforme a legislação brasileira e os tratados internacionais: da habilitação ao estágio de convivência, até a sentença final que definirá a nova família — agora maior e em quatro línguas infantis.
Quando a Justiça age com o coração
A Cejaia-AM acompanha cada passo, não só como exigência legal, mas como garantidora de que a adoção será, de fato, um ato de cuidado. “Este é um processo que exige rigor técnico, mas também sensibilidade. Estamos falando de infâncias que precisam de pertencimento, e não apenas de um lar”, destacou o desembargador José Hamilton.
A comissão também é responsável por garantir que os direitos das crianças sejam respeitados em todas as fases — inclusive após a adoção, por meio de acompanhamentos pós-judiciais em parceria com instituições do país de origem dos adotantes.
Uma nova história
O caso dos quatro irmãos emociona por romper com o roteiro mais comum das adoções internacionais — que, muitas vezes, dividem famílias em nome de viabilidades legais. Aqui, a prioridade foi manter o elo entre os irmãos. E, mais do que isso, garantir que o futuro deles seja construído com base no que eles nunca deixaram de oferecer um ao outro: companhia, proteção e afeto.
Leia mais:
Parto raro de gêmeas siamesas é realizado com sucesso no Amazonas