Superprodução da Rede Manchete investiu alto na capital amazonense, mas problemas técnicos e erros narrativos transformaram a novela em um desafio histórico
Em 1991, a Rede Manchete decidiu inovar ao gravar a novela Amazônia no coração da floresta amazônica. A capital do Amazonas, Manaus, não era apenas cenário; a cidade e sua cultura, além de sua história centrada no Ciclo da Borracha, tornaram-se elementos centrais da narrativa. A ousadia de produzir fora do eixo Rio-São Paulo mostrou que o Norte do Brasil poderia receber grandes produções.
Na época, Narciso Lobo, professor do curso de Comunicação Social da UFAM, comentou:
“Amazônia representava uma tentativa pioneira de inserir a região Norte no circuito da televisão nacional, desafiando limitações técnicas e logísticas.”
A temática da novela era promissora, semelhante ao sucesso da novela Pantanal, produzida pela mesma emissora. Contudo, os desafios de produzir fora do eixo principal e os altos custos impactaram a execução e a recepção da obra.
Narrativa em dois tempos: inovação ou obstáculo?
A trama de Amazônia foi dividida em dois tempos — passado e presente — numa tentativa de enriquecer a história e criar tensão dramática. Embora criativa, a alternância prejudicou a simplicidade e o regionalismo, que consagraram Pantanal.
Segundo Lobo, na época:
“A narrativa em dois tempos dificultava a assimilação pelo público e acabava diluindo o impacto da história, apesar dos avanços técnicos que a produção trouxe, como fotografia e direção de arte aprimoradas.”
O público frequentemente se perdia nas transições entre passado e presente, e a crítica destacou problemas de ritmo e clareza narrativa. Ainda assim, a novela avançou em aspectos técnicos e visuais, deixando uma marca importante para futuras produções no Amazonas.
Fotografia, direção de arte e figurinos:
- Fotografia: paisagens amazônicas exploradas de forma inédita
- Direção de arte: cenários detalhados e integrados à cultura local
- Figurinos: caracterização realista refletindo o regionalismo
Desafios nas filmagens
A gravação no Amazonas trouxe desafios inéditos que a equipe não conseguiu antecipar, revelando lacunas no planejamento e desconhecimento da rotina na Floresta Amazônica.
Relatos da época apontam que o calor extremo e a umidade prejudicavam câmeras e microfones, enquanto figurinos pesados para o clima tornavam cada cena mais demorada.
Os constantes deslocamentos fluviais e terrestres atrasavam a logística diária, e parte do elenco enfrentava problemas dermatológicos e respiratórios.
Esses obstáculos não apenas elevaram os custos da produção, como também comprometeram o cronograma original, desencadeando uma série de ajustes e imprevistos ao longo de toda a gravação.
Legado e influência no Norte do país
Apesar do desempenho comercial modesto, Amazônia deixou um legado cultural significativo. Provou que, com planejamento cuidadoso e roteiros bem estruturados, Manaus e o Norte poderiam se consolidar como locações viáveis para novelas e filmes.
Produções recentes gravadas na região reforçam essa constatação, até mesmo com filmes premiados, como “O Último Azul”.
Aprendizados para produtores:
- Valorizar cultura e regionalismo
- Equilibrar ousadia narrativa com acessibilidade ao público
- Planejar logística e custos para produções fora do eixo Rio-São Paulo
Comparações com Pantanal e lições aprendidas
Enquanto Pantanal conquistou o público com simplicidade e forte identidade regional, Amazônia buscou inovar com narrativa em dois tempos.
A lição que fica é clara: ousadia e originalidade são essenciais, mas precisam caminhar lado a lado com narrativa acessível e valorização da cultura local para engajar o público.
Enredo:
A trama original se iniciava com Milla (Cristiana Oliveira) uma jornalista do Rio de Janeiro que se mudava para Manaus e se envolvia com um trambiqueiro local chamado Lúcio ( Marcos Palmeira). O mistério central era a ligação desse casal com o passado de 1899, onde Lúcio se reconhecia como Caio, filho do poderoso Comendador Mangabeira, uma família enriquecida pela exploração dos seringais. Este cruzamento temporal, embora ousado, se mostrou confuso e mal amarrado, levando a audiência a despencar rapidamente. Por isso, a emissora abandonou a história futurista após 42 capítulos e reformulou a novela, focando exclusivamente na dramática Manaus da Belle Époque. Apesar do fracasso inicial de audiência, a segunda parte, que abordava a vida nos seringais e o contraste social da Capital, foi elogiada pela crítica.
VEJA O VÍDEO DE ABERTURA DA NOVELA:
Ficha Técnica :
Autores : Denise Bandeira, Jorge Duran e Regina Braga
Direção Geral : Carlos Magalhães, Tizuka Yamazaki, Luis Carlos Magalhães, Marcos Schertmann
Protagonistas:
MARCOS PALMEIRA – Caio (1899) / Lúcio (1991)
CRISTIANA OLIVEIRA – Camilla (1899) / Milla (1991)
Exibição: 10 de Dezembro de 1991 à 29 de Junho de 1992
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