Empresário Nelson Azevedo conecta tragédia no Paraná com seca extrema na Amazônia e cobra novo pacto global na COP 30
Por Nelson Azevedo / [email protected]
Enquanto líderes de todas as partes do mundo se reúnem em Belém para o início da COP 30, a natureza fala em outra língua — a da urgência. No Paraná, em Rio Bonito do Iguaçu, um tornado sem precedentes destruiu quase toda a cidade, arrancando telhados, árvores e esperanças. Foi mais que um fenômeno meteorológico: foi um grito.
A mudança climática é agora
Um grito que vem também das margens do Solimões, do Juruá, do Purus e do Negro. Das famílias ribeirinhas que veem seus rios secarem, dos pescadores sem peixe, dos agricultores sem safra, dos indígenas que testemunham o descompasso entre o ciclo da chuva e o ciclo da vida. O Brasil, em todas as suas regiões, está sentindo na pele o que por décadas os cientistas advertiram — a mudança climática não é futuro: é agora.
As vítimas silenciosas do Sul Global
O tornado que devastou o Paraná é o mesmo vento que sopra das injustiças climáticas do mundo. Ele nasce do mesmo calor que provoca as secas extremas na Amazônia, os ciclones em Moçambique, as enchentes no Paquistão, os incêndios no Chile e as ondas de calor que sufocam a África e o Sudeste Asiático.
Os rostos da catástrofe são sempre os mesmos: os pobres, os periféricos, os invisíveis. São eles que perdem a casa, o trabalho, o alimento, o tempo e, muitas vezes, a própria dignidade. São os povos da floresta, das periferias e dos sertões que sustentam com resiliência um sistema que insiste em tratá-los como descartáveis.
Uma Amazônia de pé, um planeta de joelhos
Como empresário e cidadão da Amazônia, não posso deixar de ver nas imagens de Rio Bonito do Iguaçu um espelho invertido da floresta. Lá, o vento destrói; aqui, o vento é bloqueado pelas copas das árvores — nossas barreiras vivas contra o colapso. E, no entanto, a floresta segue ameaçada por um modelo econômico que ainda confunde desenvolvimento com destruição.
A Amazônia está de pé, mas o planeta está de joelhos. O desequilíbrio climático é a fatura do egoísmo acumulado por séculos. O Norte industrializado cresceu queimando carvão, petróleo e florestas tropicais; agora, pede à humanidade que reduza emissões com discursos e metas, mas sem partilhar poder, tecnologia ou recursos.
A hora de mudar o paradigma
Se a COP 30 tem um sentido histórico, ele está neste ponto de virada: ou transformamos o sistema global de financiamento climático e cooperação tecnológica, ou seremos apenas uma conferência a mais em meio aos destroços.
Os países desenvolvidos precisam compreender que a Amazônia não quer esmolas nem promessas vazias — quer parceria, investimento e respeito. Quer um novo pacto, fundado na solidariedade concreta e na transferência justa de recursos, para que o Sul Global possa proteger o planeta sem sacrificar seu próprio povo.
Um apelo à solidariedade ativa
Os recursos que hoje dormem nos cofres das grandes economias precisam despertar para a vida real — a vida que se esvai em cada casa arrasada de Rio Bonito do Iguaçu, em cada comunidade isolada sem energia na Amazônia, em cada jovem que precisa migrar porque seu território se tornou inabitável.
Solidariedade não é mais um valor moral; é a nova base da sobrevivência coletiva. É o nome moderno da prudência, da justiça e da inteligência humana.
Epílogo – Quando o vento fala
“Quando o vento fala, é a Terra dizendo que já não aguenta.
Que o tempo das desculpas acabou.
Que o Norte precisa aprender a dividir.
Que o Sul não pode mais se calar.
Que cada árvore derrubada é uma prece interrompida.
Que cada casa destruída é um alerta.
Que a Amazônia, ainda de pé, é a última esperança do mundo.”
Saúdo, portanto, a COP 30 com a convicção de que o Brasil tem a responsabilidade de liderar um novo caminho — não o da retórica verde, mas o da coragem política e moral. Que a tragédia de Rio Bonito do Iguaçu se transforme em consciência global. Que o vento que devastou o Paraná nos empurre a reconstruir o planeta.
(*) Nelson é economista, empresário e presidente do SIMMMEM Sindicato da Indústria Metalúrgica Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e da CNI e vice-presidente da FIEAM
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