Corte sinaliza fim da chance de recalcular benefício com contribuições antigas — milhões ficam sem saída
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de enterrar de vez a Revisão da Vida Toda do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é um golpe frio nas esperanças de quem dedicou décadas de trabalho — e contribuições para o instituto na esperança de alívio e sossego financeiro na terceira idade.
O que foi decidido
O STF, por 8 votos a 3, cancelou a possibilidade de recalcular aposentadorias com base em todas as contribuições da vida, inclusive as anteriores a julho de 1994.
Quem esperava por esse alívio — especialmente aqueles que contribuíram mais no início da carreira ou tiveram salários mais altos — viu a porta se fechar. Para quem já obteve decisão judicial favorável antes de abril de 2024, tudo bem: não haverá devolução de valores. Mas para novos pedidos e para os que ficaram aguardando, a esperança morre.
A perversidade da rigidez
É perverso porque a legislação previdenciária no Brasil muda como quem rearruma móveis sem avisar a quem mora na casa: sempre empurra o custo para o trabalhador. As revisões, quando surgem, raramente ampliam direitos — funcionam quase como punições tardias, ajustes que retiram mais do que corrigem.
E o discurso oficial reforça isso ao usar projeções do IBGE sobre o envelhecimento da população para justificar cortes e restrições, como se o futuro demográfico autorizasse precarizar o presente de quem já contribuiu a vida inteira.
A “Revisão da Vida Toda” representava — agora representava — uma chance de justiça previdenciária. Reconhecia que quem trabalhou duro no início, muitas vezes ganhando mais relativamente, e depois teve empregos com salário menor ou irregularidades, não fosse penalizado para sempre. Era uma correção possível. Mas o STF optou pela rigidez. Escolheu blindar a regra fixa ao legado das desigualdades salariais e à volatilidade do mercado.
Quem paga o pato?
Os aposentados, os pensionistas, os trabalhadores que já perderam tempo demais. Muitos contavam com esse recálculo para fechar as contas e sobreviver com dignidade. Em um país marcado por desigualdades e instabilidades, decidir que “regra é regra” sem considerar trajetórias de vida é uma forma velha de burocratizar o sofrimento.
Aqui não se trata apenas de economia, mas de dignidade — de reconhecer que a vida de trabalho não é matemática linear. São histórias de sacrifício, de turnos longos, de cortes de salários, de esperanças por um merecido descanso com justiça.
O paradoxo da “segurança jurídica”
Os defensores da decisão falam em segurança jurídica. Mas qual segurança há para quem depende de benefício previdenciário para comer, pagar remédio, manter o pouco que restou de dignidade? A “segurança” protege as regras — não as pessoas. Afinal, as regras já favoreceram durante décadas os que acumulavam benefícios, salários altos, estabilidade. Quem pagou a conta foram os trabalhadores comuns.
Cancelou-se a revisão, mas manteve-se o sistema desigual.
O Brasil que tenta se erguer socialmente precisa de justiça real, não de aspas jurídicas e a previdência é a segurança mínima para quem já pagou sua cota de vida. Quando essa segurança é retirada, de modo unilateral e frio, estamos permitindo que a desigualdade se perpetue.
Para além das contribuições e dos cálculos, está a dignidade de milhões. O STF pode dizer que está preservando segurança jurídica. Eu digo que está sacramentando a frieza da lei. Enquanto isso, o país continua atrasado numa equação essencial: a de valorizar quem trabalhou até o fim.

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