Por Maria Vilani Maia Sequeira
Em nossa sociedade predomina o pensamento acelerado. Somos impulsionados a estar conectados constantemente, na busca de uma performance constante. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, designa o momento atual como “Sociedade do Cansaço”. Nesse contexto, a pausa para a reflexão se torna um luxo, e a exaustão, um fardo invisível carregado, por muitos.
Cabe aqui uma reflexão – “cansado de quê ou de quem?” – a escolha é sua, mas ressoa de forma profunda, apontando para uma exaustão que vai além do físico, atingindo a esfera psicológica. O Setembro Amarelo emerge, nesse cenário, não apenas como uma campanha de conscientização, mas como um convite urgente para uma introspecção coletiva e individual.
A saúde mental, muitas vezes negligenciada em meio às exigências cotidianas, é o pilar de uma vida equilibrada. O autocuidado, nesse sentido, transcende a superficialidade de momentos de lazer e se estabelece como uma prática indispensável para a manutenção do bem-estar psicológico.
Nosso convite é: “Olhar para si mesmo”. Um ato que a sociedade do cansaço tenta reprimir. A introspecção mostra-se como um desafio fundamental nos tempos atuais. “Conhece-te a ti mesmo” é uma máxima de grande importância na filosofia. A frase estava inscrita no Templo de Apolo, em Delfos, na Grécia Antiga. Para Sócrates, o autoconhecimento não era apenas uma virtude, mas a base de toda a sabedoria. Para ele, examinar e questionar a própria vida, as pessoas poderiam alcançar uma vida mais virtuosa e ética.
O olhar interno nos confronta com nossas vulnerabilidades, medos e exaustões. Na dimensão psicológica é o encontro de reconhecimento de nossas emoções. É a partir desse reconhecimento que o processo de autocuidado pode, de fato, começar. Contrário a essa orientação emerge a hiperconectividade, o excesso de informações aponta para a vigilância com a saúde mental.
A pressão por sucesso, a hiperconectividade e a falta de limites entre a vida profissional e pessoal têm contribuído para um aumento significativo de transtornos mentais, como a ansiedade e a depressão, principalmente entre os mais jovens.
Desistir da vida é um chamamento ao autoextermínio. Este ato, talvez seja a última tentativa de ser ouvido, tema central do “Setembro Amarelo”. Desistir da vida é o desfecho trágico e evitável de um sofrimento silencioso, que muitas vezes, se acumula ao longo de sofrimentos silenciosos, dores não identificáveis, quando não encontra espaço para ser verbalizado.
É nesse ponto que a máxima “nunca diga não posso, não consigo” ganha significado. Desafiar-se não é um ato grandioso de super-heroísmo, mas sim, uma série de pequenos, quase imperceptíveis, passos. Assim como a chuva é um aglomerado de gotas e o rio é a união de incontáveis pingos d’água, a resiliência psicológica são construída a partir de pequenos momentos de dedicação diária.
Buscar ajusta profissional, é um começo. A prática da atenção plena (mindfulness), a delimitação de tempo para o descanso, ou simplesmente a permissão para sentir e expressar emoções sem julgamento. Em última análise, o Setembro Amarelo nos convoca a resgatar a nossa humanidade em meio à voragem da vida moderna.
É um chamado à quebrar o silêncio, para estender a mão a quem precisa e, sobretudo, para olhar para dentro de nós mesmos com compaixão e coragem. A saúde mental é uma jornada, não um destino, e cada pequeno passo em direção ao autocuidado e à reflexão é uma vitória.
Busque ajuda, viva mais com sabedoria. “Conhece-te a ti mesmo” nos convida a uma jornada de introspecção e reflexão, buscando entender nossas motivações, medos, virtudes e falhas. Ela nos desafia a olhar para dentro, em vez de focar apenas no mundo exterior, para que possamos viver de forma mais autêntica e consciente.
Maria Vilani Maia Sequeira, Psicóloga, doutoranda em Psicologia (UFAM). Professora e coordenadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Martha Falcão Wyden.
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