A história recente do Brasil nos reserva cenas vergonhosas. Nenhuma tão constrangedora quanto assistir um ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, tentando escapar da Justiça com desculpas infantis, choramingos autocentrados e uma performance digna de tragicomédia.
Diante do Supremo Tribunal Federal, o capitão reformado revelou, com todas as letras (e tropeços), o que muitos já sabiam: Bolsonaro nunca esteve à altura do cargo que ocupou.
Contradições e ressentimentos
Em vez de explicações sólidas, entregou um festival de evasivas, contradições e ressentimentos. Negou o óbvio, tergiversou sobre o golpe que rondava seus corredores e desfilou, mais uma vez, seu estilo de governar com base em ressentimento e improviso. Disse que não tramou nada, que era só um vazio — existencial, político e intelectual — que o levou a cercar-se de generais e ameaças veladas à democracia.
Ao bancar o coitado perseguido por suas “virtudes”, Bolsonaro revelou-se mais uma vez incapaz de assumir responsabilidade. Usou o palanque do STF não para se defender, mas para alimentar sua claque virtual, fazendo da Justiça palco para performance de vítima. Como sempre, mirou o espelho em vez da nação. Um líder de verdade defende a Constituição; Bolsonaro só defendeu a própria pele.
Nunca esteve à altura do cargo
Seu desabafo sobre o “inferno” que é ser presidente diz mais sobre ele do que qualquer sentença. A cadeira da Presidência não foi feita para o conforto — é feita para a história. Mas para escrevê-la com dignidade, é preciso mais do que slogans, lives e jet ski. É preciso caráter, estatura e compromisso com o bem comum.
Bolsonaro, porém, preferiu a covardia disfarçada de temperamento. Fugiu da faixa, fugiu do país, fugiu da verdade. Saiu menor do que entrou. Não por ser perseguido, mas por ser previsivelmente medíocre. O Brasil, que sobreviveu ao seu governo, agora precisa enfrentar o dano mais profundo que ele deixou: a banalização da Presidência da República.
A democracia resiste, mas sai arranhada por quatro anos de anti-estadismo. Cabe ao Judiciário cumprir seu papel, sem espetáculo, mas com firmeza. E cabe ao país lembrar, com todas as letras: não é qualquer um que pode — ou deve — ser presidente.