Manaus (AM) – Em um esforço exemplar, o povo Paumari, residente às margens do rio Tapauá, enfrenta a seca amazônica em sua 11ª temporada de manejo de pirarucu.
Coordenados por Francisco Paumari, 80 indígenas superaram os desafios climáticos e colheram 30,5 toneladas do precioso peixe amazônico.
Em entrevista ,Francisco compartilhou os dilemas enfrentados durante os 20 dias de pesca, destacando as mudanças nas estratégias adotadas para garantir o sucesso da empreitada.
“Será que iríamos conseguir alcançar a cota? iríamos conseguir manter a postura de trabalho? A seca muito grande, mas não podíamos esmorecer!”, ponderou o líder Paumari.
Com uma estrutura flutuante fixa pela primeira vez devido ao baixo nível do rio, a comunidade teve que ajustar seu planejamento, enfrentando custos adicionais e novos obstáculos. A seca, que afetou a movimentação da estrutura de pesca, também exigiu que o povo Paumari explorasse lagos menores e mais acessíveis por terra.
Essas adaptações, embora desafiadoras, resultaram em uma captura notável de 495 pirarucus. Apesar de não atingir a cota autorizada pelo Ibama, a pesca foi considerada um sucesso.
Francisco atribui esse êxito à coesão da comunidade Paumari e à colaboração de iniciativas como o projeto Raízes do Purus, que oferece suporte técnico e insumos.
A estrutura de manejo do povo Paumari é grande: são quatro flutuantes – três grandes e um pequeno, que abrigam dormitórios, cozinhas, banheiros, além de uma estrutura para armazenamento do peixe e do motor de energia elétrica. Em anos anteriores, toda essa estrutura se movimentava ao longo do rio, ficando próxima aos lagos de pesca, para facilitar o trabalho dos pescadores.
Este ano foi o primeiro onde a estrutura ficou fixa em um único lugar, pois o nível do rio estava muito baixo e os flutuantes poderiam ficar encalhados em algum ponto. Essa mudança de estratégia causou um aumento nos custos de combustível, gelo e de manutenção das canoas.
“Eu já consigo ver e sentir as mudanças climáticas. É uma coisa que vamos ter que lidar nos próximos anos, não vai parar por aqui”,observa.
Após a pesca, uma jornada de mais de 300 km leva o pescado de Tapauá a Manacapuru. Uma equipe composta por quatro jovens indígenas enfrentou desafios em trechos secos do rio, mas a entrega bem-sucedida destaca a determinação e a união do povo Paumari.
Esta conquista não apenas reforça o papel essencial dos povos indígenas na preservação ambiental, mas também destaca a importância da cooperação em meio aos desafios climáticos crescentes na região.